Bolsonaro, um álibi desprezível nos planos de Trump

Artigo analisa interesses de Trump contra o Brasil e expõe Bolsonaro como peça descartável em disputa geopolítica.

Por Thomaz Antônio Barbosa*

Publicado em: 12/07/2025 às 09:28 | Atualizado em: 12/07/2025 às 09:28

Engana-se quem acha que a motivação de Donald Trump para tarifar os produtos brasileiros é mesmo o Bolsonaro ou o “caça às bruxas” desencadeado pelo Judiciário contra os ataques democráticos que culminaram com o 8 de Janeiro e também este ato.

O ex-presidente é um álibi – por sinal, frágil – utilizado pelo americano para tentar matar a organização econômica brasileira no sistema internacional a partir da raiz.

É inconcebível na mente gananciosa do ianque saber que o Lula tem em mãos a presidência do banco do Brics e agora um bloco para chamar de seu, o Mercosul, e ainda despontar no horizonte próximo à rodovia bioceânica.

Na pressa de conter o avanço brasileiro na economia global, Trump esqueceu de ler a minuta dos acordos de paz que vêm se baseando nas relações internacionais. Não há entre os estados soberanos um maior que o outro, bem como, dentre as constituições, uma que atravesse a fronteira alheia com poder de mando. Portanto, o atabalhoado presidente americano não pode intervir, por força de nenhum instrumento jurídico legal, nas questões internas do Brasil ou de qualquer nação que seja.

O desespero é grande, a arrogância maior ainda, mas o Brasil não irá ficar de braços cruzados. A “carta” está servindo para o unir o país.

Recapitulando as ações mais recentes no sentido da garantia da soberania e da harmonia entre as nações, o sistema internacional moderno começa na “Paz de Vestefália”, que se refere a um conjunto de tratados que põe fim à Guerra dos Trinta Anos, de 1618 a 1648, um conflito religioso que envolveu as principais potências europeias. Também sinalizou o final da Guerra dos Oitenta Anos, entre Espanha e Holanda, consolidando o princípio dos estados soberanos, rechaçando a possibilidade de ingerência de um nas decisões internas do outro.

Depois de Vestefália, podemos citar a Liga das Nações, uma organização internacional criada em 1919 com o objetivo de manter a paz e a segurança internacional, embora, todavia, não tenha evitado a Segunda Guerra Mundial.

O fato curioso é que esse organismo foi idealizado por um presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, como parte dos “Quatorze Pontos”, objetivando resolver disputas internacionais por meio da diplomacia e cooperação, sem recorrer à guerra. Porém, seu país não fez parte dessa organização. Foi dissolvida em 1946, sendo, então, criada as Nações Unidas, em voga até hoje.

Por essas questões se explica o fato de que a motivação americana não está na defesa do reles ex-presidente brasileiro, eliminando-se a possibilidade de um Estado intervir na soberania de outro, em virtude de todo um histórico de construção de acordos, tratados e organizações que se encaminham para esse fim.

Restam, portanto, duas indagações possíveis. A primeira delas é a possibilidade de que Donald Trump tenha “colado as placas” de vez; a segunda, que diante da organização de agora do Brasil no sistema internacional, o desespero tomou conta da América.

Desde o primeiro mandato de Lula que ele deveria ter buscado essa organização econômica, um bloco para chamar de seu.

O Mercosul tem as saídas comerciais que precisamos para nos tornar uma potência global, até porque essa região não detém uma política definida no contexto geopolítico, se limitando ao protagonismo individual de alguns líderes ou, pura e simplesmente, seguir os ditames dos Estados Unidos.

Dessa forma, tão logo o Mercosul se disponha a se reorganizar, com o Brasil à frente, um Estado que desponta como protagonista no sistema internacional, um dos atores principais do Brics, bloco esse que se propõe a enfrentar a unilateralidade, nesse cenário, automaticamente, o governo Lula se torna alvo, e não outra coisa mais.

A carta de Trump foi o primeiro tiro; outros virão. Todavia, o presidente brasileiro também está bem municiado e luta em seu território…

Que Bolsonaro morra iludido, mas ele não passa de um reles, um álibi desprezível nas mãos de um Wasp desesperado!

Ah, o que é um WASP?!! A resposta é minha: “White Anglo-Saxon Protestant”.

Ao leitor cabe o direito de traduzir e interpretar.

*O autor é professor.

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Foto: Alan Santos/PR