A morte feliz do analfabeto polĂtico
O articulista reflete se Ă© verdade que o alienado quer manter seu estado de letargia mental para nĂ£o sofrer e assim seguir sua vida feliz como Ă©.

Por LĂºcio Carril*
Publicado em: 11/07/2023 Ă s 12:23 | Atualizado em: 11/07/2023 Ă s 12:23
Ter consciĂªncia das coisas do mundo nos faz sofrer. Ao olhar determinada realidade identificamos logo os sujeitos e as causas do problema, passando a questionar em seguida os meios que poderiam levar Ă superaĂ§Ă£o daquela situaĂ§Ă£o; uma chatice que persegue quem aprendeu a analisar o que ver.
Feliz mesmo Ă© o alienado, que sorri diante da sua desgraça, achando que Ă© obra divina ou resultado da sua incapacidade de fazer. Brecht chamava esses seres metafĂsicos de “analfabetos polĂticos”, justamente aqueles que nĂ£o sabem que o preço do pĂ£o e da carne Ă© obra humana e nĂ£o resultado de uma lei atemporal.
Ao nĂ£o saber das coisas do mundo, o alienado aceita tudo com resignaĂ§Ă£o e nĂ£o sofre alĂ©m daquilo que nĂ£o satisfaz suas necessidades materiais de vida.
Tenho refletido se Ă© verdade que o alienado quer manter seu estado de letargia mental para nĂ£o sofrer e assim seguir sua vida feliz como Ă©. Talvez seja uma autodefesa seu distanciamento da consciĂªncia crĂtica. Penso assim em razĂ£o da insistĂªncia de muitos desses seres estranhos em nĂ£o aceitar informaĂ§Ă£o ou uma explicaĂ§Ă£o da realidade.
Nem falo de uma reflexĂ£o dialĂ©tica, mas somente de um raciocĂnio simples das relações polĂticas e sociais.
Basta vocĂª começar a explicar as causas de um problema que o incauto pula, foge ou simplesmente ignora. Ele nĂ£o quer saber das coisas do mundo.
Fico eu aqui no meu sofrimento e na minha chatice reflexiva, enquanto outros seres acenam e sorriem para sua exploraĂ§Ă£o e seu explorador.
*O autor Ă© sociĂ³logo
Foto: ilustrativa/internet