Amazonas pediu socorro a Bolsonaro no dia 18 de dezembro, diz relatĂ³rio

Segundo apuraĂ§Ă£o de membros da ComissĂ£o Parlamentar de InquĂ©rito, no Senado Federal, hĂ¡ evidĂªncias de que o governo federal ignorou sucessivos alertas e demorou a entrar em aĂ§Ă£o para ajudar a enfrentar o problema

Bolsonaro diz que fez 'mais do que devia' sobre crise em Manaus

Publicado em: 16/06/2021 Ă s 08:04 | Atualizado em: 16/06/2021 Ă s 19:28

Documento enviado Ă  CPI da covid aponta que o MinistĂ©rio da SaĂºde soube do crescimento brusco da demanda de respiradores no Amazonas quase um mĂªs antes do colapso da rede hospitalar do estado, em janeiro deste ano, com a aceleraĂ§Ă£o da pandemia da covid-19 no paĂ­s.

Enviado pelo prĂ³prio MinistĂ©rio da SaĂºde Ă  CPI, o documento mostra que, a partir de 18 de dezembro de 2020, o estado do Amazonas solicitou 140 respiradores naquele mĂªs.

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JĂ¡ em janeiro de 2021, no dia 2, foram pleiteados mais 78 respiradores —totalizando uma demanda de 218 em um espaço de apenas 16 dias.

Segundo apuraĂ§Ă£o de membros da ComissĂ£o Parlamentar de InquĂ©rito, no Senado Federal, hĂ¡ evidĂªncias de que o governo federal ignorou sucessivos alertas e demorou a entrar em aĂ§Ă£o para ajudar a enfrentar o problema.

Em razĂ£o do agravamento da crise sanitĂ¡ria, pessoas morreram sem acesso a oxigĂªnio e insumos hospitalares bĂ¡sicos.

O arquivo nĂ£o cita se houve respostas aos pedidos no espaço dedicado a apontar esse retorno.

Na avaliaĂ§Ă£o de integrantes da CPI, isso mostra que as circunstĂ¢ncias da rede hospitalar em dezembro jĂ¡ faziam de Manaus uma “bomba-relĂ³gio”.

UOL procurou o MinistĂ©rio da SaĂºde na tarde desta segunda-feira (14) e aguarda retorno. Se houver resposta, ela serĂ¡ acrescentada neste texto.

“DiagnĂ³stico situacional”

O MinistĂ©rio da SaĂºde foi se debruçar melhor sobre o Amazonas em 4 de janeiro de 2021, quando uma equipe foi enviada Ă  capital, Manaus, para fazer um “diagnĂ³stico situacional de saĂºde e apoio emergencial”, de acordo com outro documento enviado Ă  comissĂ£o.

O material detalha, em ordem cronolĂ³gica, as ações da pasta realizadas in loco a partir de 4 de janeiro. O expediente operacional sĂ³ teve inĂ­cio, de fato, em 8 de janeiro, apĂ³s quatro dias de “diagnĂ³stico”.

Na parte do relatĂ³rio referente a 10 de janeiro consta que a “prioridade zero nos serviços no dia de hoje” jĂ¡ era “o suprimento de oxigĂªnio e balas de O2 para os hospitais, SPA, UPAS do estado do Amazonas”, entre outras atividades.

Em depoimento Ă  CPI, o ex-ministro da SaĂºde Eduardo Pazuello afirmou ter tomado conhecimento do desabastecimento de oxigĂªnio hospitalar somente em 10 de janeiro.

JĂ¡ Mayra Pinheiro, servidora do ministĂ©rio conhecida como “capitĂ£ cloroquina”, disse Ă  comissĂ£o que Pazuello teria sido informado do problema dois dias antes, em 8 de janeiro.

Em 14 de janeiro, o MinistĂ©rio da SaĂºde recebeu solicitaĂ§Ă£o de apoio para abastecimento complementar de oxigĂªnio para distribuiĂ§Ă£o nas unidades de saĂºde do Amazonas, segundo um dos documentos. Dez dias depois, solicitaĂ§Ă£o de mais 110 respiradores e 110 monitores multiparamĂ©tricos. Outros pedidos de monitores tambĂ©m haviam sido feitos anteriormente.

Pazuello

A confusĂ£o criada por Pazuello em relaĂ§Ă£o a essas datas e a tese, sustentada por senadores amazonenses, de que houve uma demora na resposta do ministĂ©rio Ă  crise em Manaus sĂ£o elementos que complicam a situaĂ§Ă£o do ex-ministro na CPI.

Membros da comissĂ£o jĂ¡ defenderam abertamente que ele seja responsabilizado criminalmente no relatĂ³rio final, sob responsabilidade de Renan Calheiros (MDB-AL).

Na CPI, Pazuello tentou relativizar a crise em Manaus ao dizer que o oxigĂªnio hospitalar esteve em falta por somente trĂªs dias, na avaliaĂ§Ă£o de parte dos senadores. A declaraĂ§Ă£o causou revolta em membros da CPI, especialmente no senador pelo Amazonas e lĂ­der do MDB no Senado, Eduardo Braga.

Um dos documentos do MinistĂ©rio da SaĂºde enviados Ă  CPI relata que o governo estadual do Amazonas agradeceu a cessĂ£o de 30 respiradores em 25 de outubro de 2020, dois dias depois do ato.

Um deles tambĂ©m cita que houve a distribuiĂ§Ă£o de 78 ventiladores pulmonares com a sinalizaĂ§Ă£o “UTI” e de 40 ventiladores pulmonares com a sinalizaĂ§Ă£o “transporte”, fora mĂ¡scaras cirĂºrgicas, Ă³culos e protetor facial.

O arquivo faz menĂ§Ă£o ao dia 15 de janeiro, mas nĂ£o estĂ¡ claro se todos esses equipamentos foram distribuĂ­dos apenas naquela data ou atĂ© aquela data.

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Foto: DivulgaĂ§Ă£o/ Prefeitura de Autazes