DĂ©ficit da previdĂªncia chega a R$ 225 bilhões e supera total de 2019

Nos primeiros oitos meses do ano passado, antes da reforma previdenciĂ¡ria, que completa um ano nesta quinta-feira (12), o rombo das contas era de R$ 131,7 bilhões.

DĂ©ficit da PrevidĂªncia chega a R$ 225 bilhões e supera total de 2019

Publicado em: 10/11/2020 Ă s 08:07 | Atualizado em: 10/11/2020 Ă s 14:28

A pandemia do novo coronavĂ­rus prejudicou o emprego formal, com reflexos na contribuiĂ§Ă£o da PrevidĂªncia Social do paĂ­s.

O dĂ©ficit dos primeiros oito meses deste ano jĂ¡ supera, em termos nominais, o total do ano passado.

De janeiro a agosto, o resultado entre a arrecadaĂ§Ă£o e o total de benefĂ­cios ficou negativo em R$ 225,5 bilhões, um aumento de 71% em relaĂ§Ă£o ao mesmo perĂ­odo de 2019, ano que fechou com um dĂ©ficit total de R$ 213 bilhões.

Nos primeiros oitos meses do ano passado, antes da reforma previdenciĂ¡ria, que completa um ano nesta quinta-feira (12), o rombo das contas era de R$ 131,7 bilhões.

 

Leia mais

Governo avalia liberaĂ§Ă£o dos flutuantes do TarumĂ£

 

As informações se referem ao RGPS (Regime Geral de PrevidĂªncia Social), sistema voltado aos trabalhadores do setor privado, e constam do Boletim EstatĂ­stico da PrevidĂªncia Social.

A reduĂ§Ă£o na arrecadaĂ§Ă£o e o aumento da despesa com a antecipaĂ§Ă£o do 13º salĂ¡rio do INSS sĂ£o os principais motivos para o aumento do rombo.

A medida foi determinada pelo governo federal para diminuir os efeitos da covid-19 na populaĂ§Ă£o de baixa renda. TambĂ©m foi antecipado o pagamento do BPC (BenefĂ­cio de PrestaĂ§Ă£o Continuada) e auxĂ­lio-doença.

 

AntecipaĂ§Ă£o do 13º salĂ¡rio

 

O pagamento dessas parcelas, que geralmente ocorre nas folhas de agosto e de novembro, provocou aumento da despesa no primeiro semestre.

Mas a Secretaria Especial de PrevidĂªncia e Trabalho, do MinistĂ©rio da Economia, afirma que isso nĂ£o acarretarĂ¡ efeitos no exercĂ­cio de 2020 como um todo.

“É importante registrar que no mĂªs de agosto hĂ¡ incremento significativo no dĂ©ficit devido ao pagamento da antecipaĂ§Ă£o do 13º salĂ¡rio de aposentados e pensionistas (jĂ¡ todo pago)”, afirma em nota a secretaria.

 

Queda da arrecadaĂ§Ă£o

 

Outro fator destacado pelo governo federal foi a reduĂ§Ă£o da arrecadaĂ§Ă£o em funĂ§Ă£o dos impactos econĂ´micos impostos pela pandemia.

“Na comparaĂ§Ă£o de janeiro a agosto de 2020 com o mesmo perĂ­odo de 2019, hĂ¡ uma queda da arrecadaĂ§Ă£o, em termos reais (considerando a inflaĂ§Ă£o no perĂ­odo), da ordem de 13%. Contudo, tendo em vista a recuperaĂ§Ă£o econĂ´mica que vem sendo observada no segundo semestre, o ano deverĂ¡ fechar com uma queda da arrecadaĂ§Ă£o inferior ao patamar observado de janeiro a agosto”, explica a secretaria.

O total de pessoas contribuindo para a PrevidĂªncia chegou a 53,3 milhões no trimestre encerrado em agosto, o menor patamar da sĂ©rie histĂ³rica, segundo a Pnad ContĂ­nuia (Pesquisa Nacional por Amostra de DomicĂ­lios ContĂ­nua), iniciada em 2012 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e EstatĂ­stica).

A Lei OrçamentĂ¡ria Anual (LOA) de 2020 jĂ¡ previa dĂ©ficit de R$ 241 bilhões para o RGPS em 2020, antes da pandemia, ante os R$ 213 bilhões de dĂ©ficit realizado em 2019.

O montante equivale a cerca de 3% do PIB (Produto Interno Bruto) de 2019.

“A arrecadaĂ§Ă£o Ă© muito sensĂ­vel Ă  flutuaĂ§Ă£o econĂ´mica, porque depende dos empregos formais. Quando a gente tem uma situaĂ§Ă£o como a atual de contraĂ§Ă£o econĂ´mica, com reduĂ§Ă£o do trabalho formal, seja diretamente ou reduĂ§Ă£o de jornada, cai muito a arrecadaĂ§Ă£o. O que Ă© normal num perĂ­odo de forte retraĂ§Ă£o ter diferença de pagamento de benefĂ­cios e arrecadaĂ§Ă£o”, afirma Esther Dweck, professora do Instituto de Economia da URFJ.

 

BenefĂ­cios estĂ¡veis

 

Ela explica que os benefĂ­cios sĂ£o muito mais estĂ¡veis, porque as pessoas continuam se aposentando e os aposentados continuam recebendo, o que Ă© normal que haja essa diferença no perĂ­odo de desaceleraĂ§Ă£o econĂ´mica.

Outro ponto é que pode estar ocorrendo o efeito causado pelo represamento de concessões por causa da fila registrada no ano passado.

“Pode ter acontecido que se retardou um pouco a concessĂ£o dos benefĂ­cios atĂ© a aprovaĂ§Ă£o da reforma. Com isso, teve uma base mais baixa que seria normal e um aumento na despesa. Normalmente, numa situaĂ§Ă£o como essa tende a aumentar a diferença entre a arrecadaĂ§Ă£o previdenciĂ¡ria e o pagamento dos benefĂ­cios”, explica a economista.

As contas da PrevidĂªncia, no perĂ­odo de crescimento econĂ´mico e formalizaĂ§Ă£o do mercado de trabalho, atĂ© 2014, estavam com aumento muito maior da arrecadaĂ§Ă£o do que os gastos. A partir da crise de 2015, essa tendĂªncia se inverteu, com grande aumento do desemprego.

Como o nĂºmero de beneficiĂ¡rios Ă© relativamente estĂ¡vel, com crescimento em torno de 3% ao ano, isso mantĂ©m o aumento do gasto.

“PorĂ©m, se vocĂª tem um reduĂ§Ă£o da atividade econĂ´mica, principalmente uma demissĂ£o de trabalhadores formais, a gente vai ter uma reduĂ§Ă£o muito forte da arrecadaĂ§Ă£o, o que foi que aconteceu desde 2015.”

Para Dweck, a maneira de retomar o equilĂ­brio, alĂ©m dos efeitos da reforma da PrevidĂªncia, seria uma retomada do crescimento econĂ´mico com geraĂ§Ă£o de emprego formal, que Ă© a forma mais estĂ¡vel de vocĂª recuperar essa diferença.

 

Leia mais R7

 

Foto: