Bolsonaro, ameaçado pelo STF a entregar celular, reagiu: “Vou intervir!”

A reportagem ouviu quatro fontes sob condição de anonimato. Dentre elas duas pessoas que participaram do encontro de elaboração do plano.

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Publicado em: 05/08/2020 às 15:43 | Atualizado em: 05/08/2020 às 15:43

No dia em que o presidente Jair Bolsonaro foi avisado de que teria o celular apreendido pelo Supremo, ele reagiu: “Vou intervir!”. A reportagem é da revista Piauí, republicada por Último Segundo.

O relato da jornalista Monica Gugliano está publicado na edição de agosto.

De acordo com a publicação, Bolsonaro elaborou um plano com ministros para intervir no Supremo Tribunal Federal (STF). Para a revista, seria “um golpe militar”. 

A reportagem ouviu quatro fontes sob condição de anonimato. Dentre elas duas pessoas que participaram do encontro de elaboração do plano.

Essas pessoas confirmaram que durante uma reunião no dia 22 de maio de 2020, Bolsonaro afirmou: “Vou intervir!”.

Naquele momento, tinha apoio dos ministros militares Walter Braga Netto, da Casa Civil; e Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo. Também estava presente Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional.

 

Bolsonaro irritado

Conforme a reportagem, Bolsonaro estaria desconfortável e irritado com uma  conversa que ocorreu entre o decano Celso de Mello, do STF, e a Procuradoria-Geral da República.

A conversa seria sobre a decisão de mandar apreender ou não os celulares do presidente e do seu filho Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

Bolsonaro teria dito que não entregaria o celular, mesmo se a justiça ordenasse. “Só se eu fosse um rato para entregar meu celular para ele”, disse.  

De acordo ainda com Piauí, a reunião se estendeu e outros ministros participaram da organização do golpe militar.

Foram eles: André Mendonça (Justiça) e Fernando Azevedo (Defesa), além de José Levi,da Advocacia-Geral da União.

A ideia do golpe militar avaliada pela alta cúpula do governo federal girou entorno de invadir o Supremo  e destituir os 11 ministros.

A ideia seria substitui-los por nomes indicados pelo presidente da República que pudessem colocar “em ordem aquilo (STF)”.

 

Heleno contemporiza 

O texto diz ainda que o general Heleno tentou contemporizar e disse que ” não é momento para isso “.

Os generais e o presidente pretendiam, entretanto, fazer um golpe jurídico para que não parecesse uma intervenção militar. Além disso, que não causasse efeitos danosos ao país.

A ideia do golpe foi descartada pelos ministros durante a reunião com base em dois argumentos: não havia ordem de apreensão do celular do presidente.

O que havia, na verdade, era apenas uma consulta feita e logo depois Celso de Mello arquivou o pedido.

Naquela ocasião, ficou combinado que o ministro Augusto Heleno seria responsável por redigir uma nota pública de resposta ao STF.  De acordo com eles (ministros), sobre os supostos excessos . 

O texto, contudo, foi aquele que ficou conhecido como “Nota à Nação Brasileira”. Além de causar comoção na época, foi interpretado como ameaça pelo forte apelo a uma ruptura institucional. 

“Poderá ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”, dizia trecho a nota de Heleno. 

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Foto: Carolina Antunes/PR – arquivo