Diário de uma quarentena | 56º dia, 15 de maio – O fim do medo

Parece que o novo normal começa agora

Neuton Correa, de Neuton Corrêa*

Publicado em: 15/05/2020 às 21:00 | Atualizado em: 15/05/2020 às 21:00

Hoje é sexta-feira. São 20h02.

Falta muito pouco para o novo coronavírus (Covid-19) declarar conquista geral do maior território do Brasil, o Amazonas.

Dos 62 municípios do Estado, apenas Ipixuna e Envira, a mais de 1,2 mil quilômetros da capital, ainda não entraram na contagem dos números da doença.

A propagação em alta velocidade, assim como aconteceu em todos os continentes, mostra o triunfo do mundo dos seres invisíveis e impotência ou incompetência da sociedade para conviver com esse tipo de vida que sempre existiu na natureza.

Contagem 

O Amazonas anunciou hoje 1.211 novos casos confirmados da doença e 96 mortes, sendo 36 nas últimas 24 horas.

Com isso, ao todo, o Estado chega a 18.392 casos e 1.331 óbitos.

O número de recuperados é grande: 10.242, dado que sugere que o êxito no tratamento da doença, no atual estágio da pandemia, é bem melhor do que no começo dos tratamentos, há dois meses.

 

Brasil sem ministro

Em menos de um mês, em plena pandemia, com o país chegando a quase 15 mil mortos pelo vírus, o Brasil fica sem a sua maior e principal autoridade de saúde.

O ministro do setor, Nelson Teich, pediu demissão do cargo nesta sexta-feira.

Ele entrou em atrito com presidente da República, que quer o uso em massa do medicamento cloroquina.

Não há consenso sobre a substância para tratar pacientes com a Covid-19. O ministro se recusou a avalizar o desejo do chefe da Nação.

O Brasil registrou 824 óbitos nas últimas 24 horas, a terceira maior taxa desde o início da pandemia. O número de casos em um único dia é o maior já registrado até hoje, 15.305.

Com isso, o país registra hoje, em toda a pandemia, 218.223 casos confirmados e 14.817  mortes de brasileiros.

O Brasil chegou a quase 15 mil mortes.

Foram confirmados 15.305 novos casos e 824 óbitos de ontem para hoje.

O Estado de São Paulo é o mais infectado com 58.378 casos.

O fim do medo

Por mais que a Prefeitura de Manaus e o Governo do Estado tentem impor, por decreto e força policial, que as pessoas fiquem em casa para conter a propagação do vírus, não é isso que está acontecendo na cidade.

As medidas das autoridades para tentar evitar novas contaminações e mais mortes já não influenciam mais como no começo da pandemia.

A sensação que tive hoje, vendo o vai e vem de carros e gente nas ruas de perto de casa, é a que as pessoas perderam o medo e o respeito pelo sufoco que vivem os profissionais de saúde.

A dor da infinita separação foi banalizada.

Para me certificar de que a rotina da cidade está de volta ao normal, fui agora à noite à avenida das Torres, a poucos metros de casa.

O que não via há dois meses vem aumentando a cada dia, muito mais nesta semana.

Até os engarrafamentos voltaram.

Nas redes sociais também já não vejo mais o estado de preocupação das pessoas umas com as outras.

Só espero, porém, que essa agitação não seja o sinal de uma nova crise se encaminhando.

Parece que o novo normal começa agora.

E, ao que tudo indica, o novo normal nasce com uma sociedade ainda mais egoísta, tão irracional e menos sensível.

 

*autor é jornalista e diretor-presidente do BNC Amazonas

Foto: BNC AMAZONAS