“Falta de argumentos gera ofensa”, diz professor de direito eleitoral

Publicado em: 10/08/2018 Ă s 11:10 | Atualizado em: 10/08/2018 Ă s 11:32
Da RedaĂ§Ă£o
O professor de Direito Eleitoral e analista jurĂdico do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM) Leland Barroso declarou nesta quinta-feira, dia 9, que a troca de ofensas nas campanhas eleitorais, por parte de simpatizantes de candidatos e dos prĂ³prios candidatos, expõe a falta de conteĂºdo e a baixa capacidade para debater temas relevantes para a sociedade.
“Todo mundo se acha no direito de ofender todo mundo. NĂ£o apenas de criticar, mas de partir para a ofensa pessoal. Quando faltam argumentos cientĂficos, quando nĂ£o tenho como debater racionalmente argumentos, parto para o ataque contra a pessoa”, declarou o professor.
A anĂ¡lise de Leland Barroso ocorreu durante a sua exposiĂ§Ă£o no debate sobre “Direito de resposta em tempos de ofensas livres” no 1º Encontro de Eleitoralistas do Norte, promovido pela ComissĂ£o de Direito Eleitoral da OAB-AM e a Escolha JudiciĂ¡ria Eleitoral.
“Discutimos dogmas e nĂ£o ciĂªncia. A ofensa vem da falta de argumentos cientĂficos e racionais. Falo neste contexto e sou aplaudido”, argumentou Leland Barroso.
O professor universitĂ¡rio disse o contrato social e as leis passaram a existir justamente para mediar conflitos ofensivos verbais e fĂsicos entre os homens e mulheres.
“Com a ausĂªncia do estado e da sociedade, prevalecia a lei do mais forte. O homem lobo do homem. Por medo da morte, o homem estabelece o contrato social”, disse.
Com o organizaĂ§Ă£o do estado de direito, o homem estabelece formas para que o Estado o defenda, diz Leland e, caso ele reaja Ă uma ofensa ou agressĂ£o diretamente tambĂ©m quebra as regras como o ofensor.
Leland Barroso afirma que esse mesmo princĂpio Ă© usado no direito eleitoral para analisar os abusos nas campanhas durante as eleições. “É a justiça eleitoral que vai autorizar a responder a ofensa”, disse.
Para ele, o efeito das ofensas Ă© devastador numa campanha. O professor diz que calĂºnias e difamações deveriam ser compreendidos como uma forma de quebra do contrato e o candidato ofensor deveria perder o registro de candidatura quando adotasse posturas como essas.
“MĂ¡quinas de fakes news”
O procurador eleitoral Rafael Silva Rocha destacou que nas eleições atuais a sociedade convive com o fenĂ´meno das fakes news e que as mesmas podem afundar campanhas, caso nĂ£o sejam combatidas.
Rafael Rocha alertou para a garantia do direito de expressĂ£o, mas tambĂ©m a busca pela responsabilizaĂ§Ă£o de agentes de propagaĂ§Ă£o de notĂcias sabidamente inverĂdicas.
“A regra Ă© a liberdade de expressĂ£o e a responsabilidade. NotĂcias comprovadamente falsas tĂªm potencial para desequilibrar o processo eleitoral”, disse.Â
O procurador sugeriu que antes de compartilhar informações recebidas nas redes sociais Ă© melhor checar a veracidade da mesma em sites jornalĂsticos confiĂ¡veis.
Ele tambĂ©m recomendou que as pessoas sempre desconfiem de tĂtulos sensacionalistas e alarmantes, publicações com erros de portuguĂªs e de “correntes” que pedem compartilhamentos urgentes de informações. Outra modalidade de fake news, segundo o procurador, Ă© usar notĂcia verdadeira deturpada.
O procurador citou como exemplo matĂ©rias publicadas anos atrĂ¡s e trazidas ao momento atual como se fossem notĂcias deste tempo. “HĂ¡ mĂ¡quinas de notĂcias falsas criadas para derreter candidaturas”, alertou.
“Ofensas atingem sociedade”
O juiz Paulo Feitoza destacou que a justiça eleitoral tem trĂ¢mites mais acelerados em funĂ§Ă£o do curto perĂodo de campanha, considerando tempo que questões de direito de resposta tramitam na justiça comum.
“NĂ£o Ă©  um candidato que ofende o outro. Ele ofende toda a sociedade. Continuamos com ideia de direito de resposta de dois mil anos atrĂ¡s. Esse Ă© um crime contra a nossa honra. Volto a dizer. Ceder o tempo da ofensa a outro (no horĂ¡rio eleitoral).  NĂ£o sou economista. Nunca fui bom calculista. A propaganda gratuita Ă© paga com o dinheiro do contribuinte”, declarou o juiz.
O magistrado disse que um candidato que usa a ofensa como plataforma de campanha dĂ¡ mostras do tipo de mandato que tem capacidade de exercer, caso eleito.
“Quem faz propaganda para desqualificar o adversĂ¡rio, o que vai fazer quem quando tiver a imunidade parlamentar ao seu dispor?”, questionou.
Liberdade de expressĂ£o Ă© garantia
A advogada Maria Benigno, em sua exposiĂ§Ă£o, lembrou de ações judiciais que interferiram na publicaĂ§Ă£o da mĂdia local e tiveram repercussĂ£o em campanhas eleitorais. Um caso citado no debate foi o direito de resposta concedido na capa do jornal A CrĂtica no dia da votaĂ§Ă£o em 2016.
A advogada defendeu que abusos sejam combatidos e punidos. Maria Benigno disse que o direito Ă liberdade de expressĂ£o deve ser respeitado.
As palestras seguem até esta sexta-feira, dia 10, à tarde.
Confira a programaĂ§Ă£o: