“Está explicado”, as fraturas estão expostas

Neste artigo, o autor diz que é falso definir que vivemos entre a "direita" e a "esquerda". Mas, na verdade, tivemos e temos uma sociedade anódina onde poucos mandam e os demais se submetem. Leia o que diz Walmir de Albuquerque Barbosa

“Está explicado”, as fraturas estão expostas

Por Walmir de Albuquerque Barbosa*

Publicado em: 22/08/2025 às 09:28 | Atualizado em: 22/08/2025 às 09:28

“Está explicado”! As coisas têm lado e as fraturas estão expostas! O argumento imbecilizante de que a sociedade brasileira está “polarizada” só existe como rótulo para a propaganda de uma tal “conciliação pelo alto”, que viria com a “Anistia”. Essa mentira cai por terra ao tomarmos consciência de que as fraturas da sociedade brasileira estão expostas desde sempre aos olhos dos que não as queriam ver.

Pensar que elas são fruto de um agora, obra exclusiva deste governo acusado de recusar a “pacificação”, não é sério, é má fé. Algumas causas datam do início de nossa formação social quando a elite escravista decidiu, para escapar dos preceitos da ordem mundial da época, romper com a metrópole e rotular os grupamentos humanos coloniais de exploração da força de trabalho escrava no Brasil como “uma sociedade nacional, multirracial, em formação”, fundada na desigualdade, um paradoxo em si mesma.

É certo que a violência contra os povos originários, sua extinção ou submissão, tal como o regime escravista, estabeleceram arranjos obrigatórios e contingenciais que facilitaram tal caracterização de momento, como uma organização social de diferentes, com simulações de convivência pacífica, desde que os subalternos não contestassem sua subalternidade. Este Contrato Social Profano para evitar mais violência gerou aquilo que a sociologia clássica francesa aqui radicada e pensadores oficiais chamaram de “dicotomias”: Brasil de Contrastes, separado por um fosso enorme, onde poucos mandam e a maioria obedece.

Portanto, é falácia definir o que vivemos agora como fruto da polaridade entre “direita” e “esquerda”, o que implicaria aceitar duas forças de magnitude aproximadas digladiando-se no tempo histórico e no mesmo território. Na verdade, o que sempre tivemos e temos é uma sociedade anódina onde poucos mandam e os demais se submetem, existindo apenas gradações de submissão de um lado e outro que tornam tudo complexo e conflitivo, mais do que se possa pensar.

As ideologias não foram suficientes para definir nos segmentos fragmentais de nossa sociedade as unidades de força, um projeto de país, uma direção consensuada, fruto da luta de classes; o que sempre existiu de forma dissimulada foi a supremacia dos que sempre mandaram e continuam mandando através de herdeiros e prepostos dos traficantes de escravos que viraram senhores de engenho e agro latifundiários, financistas, industriais, militares e players do comércio e da mídia. E todas as vezes que segmentos subalternos tentam superar esse estigma, deparamo-nos com uma crise e desaguamos em ditaduras que eliminam a parte maior de todas as conquistas. O progresso é jogado para o futuro e tudo deve ser feito para garantir os privilégios de uma minoria.

Aquela “foto de família” na cerimônia de criação da Federação Partidária que será o maior agrupamento parlamentar no Congresso Nacional diz muito do que falamos acima. Nela, personifica-se o braço político reconstituindo a “Velha ARENA”, que virou PFL, que virou Centrão, essa coisa que parece sem lado, que se diz direita moderada, mas come tudo por dentro e tem a ver com as arruaças no Legislativo, que de tão caricato, abriga uma ala que planeja até dar o golpe de estado em si mesmo, depois das tentativas fracassadas.

O braço financeiro, herdeiro dos traficantes de escravos, financistas do Império e da República se agrupa hoje na festejada “Faria Lima” e conta com a ajuda prestimosa de nossos “economistas de mercado” para infligir derrotas às políticas de estado que possam contrariá-los; tal qual os ancestrais, que outrora financiaram a Operação Bandeirantes para “caçar subversivos”, hoje, financiam a mídia para a captura dos que se comprometem com os menos favorecidos e destruí-los, salvando, assim, o “rentismo”.

A mídia tradicional, enrustida nos grupos empresariais diversos, está se repaginando para posicionar-se como braço discursivo das “novas narrativas da pacificação”, que impregnarão as cabeças da massa; uma espécie de “espírito santo malvado”, que fala várias línguas: a que prega as “polaridades”, a que pede conciliação, a que denuncia a violência sem controle culpando o governo, a que espalha a cizânia e aquelas faladas em horários nobres, comprados pelos mercadores da fé!

*O autor é jornalista profissional.

Foto: