O silêncio do fim da pré-temporada das eleições no Amazonas grita alto

Amazonas pré-candidatos Amazonino.Omar.David

Publicado em: 09/04/2018 às 07:43 | Atualizado em: 09/04/2018 às 07:43

O silêncio no fim da primeira disputa oficial da pré-temporada das eleições 2018 no Amazonas, com o balanço das filiações de lideranças políticas e conquistas de legendas para a campanha, transformou-se em uma linguagem que pode ser sintetizada no espírito de quem sai de um jogo sem ter muito o que comemorar nem lamentar.

Mesmo pilotando a principal máquina pública do Amazonas, por exemplo, o governador Amazonino Mendes (PDT), pré-candidato à reeleição, não repetiu o feito dos últimos governadores, de puxar para o seu lado uma caudalosa coligação, por enquanto.

Ele, no entanto, ganhou o MDB do senador Eduardo Braga, mas colocou em seu colo o desgaste do parlamentar que ainda não se recuperou das derrotas para José Melo (Pros), em 2014, para o próprio Amazonino, em 2017, e da efêmera aliança com o prefeito Arthur Neto (PSDB).

Ou seja, o governador pode comemorar o tempo e fundo partidário emedebistas, mas terá que ter cuidado para dimensionar como o eleitorado vai reagir à sua aproximação com o ex-adversário.

Amazonino também conta agora com o PP da ex-deputada federal Rebecca Garcia, que não desmonta seu palanque ao governo do estado.

O governador, porém, perdeu, em relação à sua campanha de 2017, o DEM, dos deputados federais Pauderney Avelino, e o PRB, de Silas Câmara, além do PSD, de Omar Aziz, o responsável por sua desaposentadoria, no ano passado, e agora seu adversário neste ano.

 

Omar Aziz

Omar, por sua vez, neste momento, tem ao seu lado os dois partidos refugados por Amazonino, mas, por sua vez, perdeu a máquina, que já não contava desde o fechamento das urnas das eleições suplementares de 2017.

Em contrapartida, ganhou o trator comandado pelo tucano Arthur Neto, que vem demonstrando apetite político bem maior do que se viu quando apoiou Amazonino em 2017, e na sua própria campanha à reeleição, em 2016.

Essa voracidade tem explicação. Em fim de carreira, o tucano olha a transição de seu legado político para seu filho, o deputado federal Arthur Bisneto, que já disse que não pretende mais voltar para Brasília e que o PSDB vai disputar cargo majoritário em 2018.

E, como não quer mais voltar para Brasília, por essa premissa, sobra-lhe o posto de governador ou vice-governador.

Omar também sofreu outras baixas dentro de seu partido, entre elas David Almeida (PSB), a quem tem evitado bater, em um momento em que o deputado estadual destila sua fúria contra Amazonino.

Há ainda outro grande partido que rondou em órbita de Amazonino, mas que se inclinou para Omar: o PR, do deputado federal Alfredo Nascimento e do ex-deputado estadual Marcelo Ramos, o candidato do partido nos últimos pleitos. O partido esteve com Braga no ano passado e agora distanciou-se dele.

 

David Almeida

Nesse cenário de silêncio perturbador, o mais angustiante deles sai de David, presidente da Assembleia Legislativa do Estado (ALE-AM), que sentiu nas últimas semanas a diferença do que é estar no governo e estar sem governo, embora ainda comande um importante poder, que tem a capacidade de determinar a agenda política, muito mais do que financeira.

O pré-candidato a governador praticamente se tornou um marisco na luta do rochedo com o mar.

David, por exemplo, perdeu Rebecca, a quem apoiou a governadora no passado; perdeu também aliados importantes de seu governo interino, como o ex-presidente da ALE-AM Josué Neto, que resolveu ficar com Omar Aziz e no partido de Omar; o mesmo destino deverá ser o de Sabá Reis, deputado estadual do PR, que se mostrou como a voz de David nos últimos meses no plenário do parlamento.

Ele também teve de contabilizar nas perdas o PSL, pelo qual gastou várias passagens acompanhando o colega de casa Platiny Soares a Brasília para a conquistá-lo e que, quando parecia estar comandando o partido de Bolsonaro, perdeu a legenda em um lapso de tempo que o jogou para filiar-se ao extremo oposto da linha do presidenciável, o PSB.

O PSB, por sua vez, pode ter sido o grande ganho de David.

Historicamente, o partido comandado por Serafim Corrêa não tem apego a grandes alianças, tanto o é que, no único cargo executivo que conquistou em sua história política no Amazonas, em 2004, a Prefeitura de Manaus, o deputado estadual estava praticamente ilhado, apenas com o apoio do falecido senador Jefferson Péres.

Foi também por causa desse desprendimento político que ele não se reelegeu em 2008.

Mas, esse pode ser o maior ganho de David, pois o PSB tem forte ligação com a esquerda tradicional do Amazonas, leiam-se PT e PCdoB, que possuem um grande corpo sem cabeça para disputar as eleições de 2018.

Um cabeça de chapa, ainda que vá para o sacrifício, é o sonho de consumo do PT, que tem chapa completa de deputado estadual a senador, mas não possui um governador; muito melhor também para o PCdoB, que pretende manter Vanessa Grazziotin na disputa pelo Senado.

Outro favor positivo para David é que, com essas adesões, pode atrair para si o sentimento orgânico da esquerda que se aflorou nos últimos dias com a prisão de Lula.

Nesse caso, passaria a ser principal opção da esquerda, apesar de nunca ter militado nela. Até aqui.

 

Fotos: Divulgação e BNC Amazonas (David)