Marcha das Mulheres Indígenas expõe impactos do garimpo sobre corpos e territórios

Mobilização reúne 5 mil mulheres em Brasília e denuncia contaminação por mercúrio, violência sexual e abandono estatal.

Publicado em: 07/08/2025 às 18:20 | Atualizado em: 07/08/2025 às 18:28

Mais de 5 mil mulheres indígenas de diferentes povos e biomas ocupam as ruas de Brasília entre os dias 2 e 8 de agosto durante a IV Marcha das Mulheres Indígenas. O evento, organizado pela Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), reafirma a força do movimento e denuncia as violações que atingem corpos e territórios.

Com o tema “Nosso corpo, nosso território: somos as guardiãs do planeta”, a marcha é marcada por denúncias, espiritualidade e articulação política. Além disso, neste ano, a mobilização ganhou alcance internacional com a criação do Espaço Ancestral de Resistência Global.

Nesse espaço, mulheres indígenas de diversos países participaram de diálogos sobre justiça climática, direitos das mulheres e preservação dos saberes tradicionais.

🚨 Violência nas aldeias

Por outro lado, as mulheres denunciam os impactos do garimpo ilegal sobre suas comunidades. Essa atividade, além de destruir o meio ambiente, provoca graves violações contra a saúde e a dignidade dos povos indígenas.

Segundo estudo da Fiocruz, mulheres e crianças ianomâmis apresentam níveis alarmantes de contaminação por mercúrio. Em 40,2% das mulheres avaliadas, foram detectados déficits cognitivos severos associados à exposição crônica à substância. Ademais, algumas amostras ultrapassaram em mais de seis vezes o limite de segurança estabelecido pela Organização Mundial da Saúde.

No Tapajós, o cenário também é grave. Em territórios como Sawré Muybu, 62% das mulheres Munduruku em idade reprodutiva apresentaram níveis de mercúrio acima do considerado perigoso para a saúde humana.

Como consequência, a contaminação afeta especialmente mulheres grávidas, cujos filhos também sofrem os efeitos do metal pesado. Além disso, metade das mulheres indígenas sofre de anemia grave, e a mortalidade por câncer de colo do útero é 80% maior do que entre mulheres não indígenas de baixa renda, segundo dados da Fiocruz.

⚠️ Exploração sexual

A violência sexual é outro eixo das denúncias. De acordo com relatórios, garimpeiros oferecem comida, ouro e perfumes em troca de sexo com mulheres e meninas indígenas. Em 2022, por exemplo, garimpeiros estupraram uma adolescente Yanomami, que morreu na região de Waikás.

Diante disso, a Marcha reafirma que a luta das mulheres indígenas é pelo território, mas também por seus próprios corpos, que seguem sendo alvos de violência sistemática.

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Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil