Como EUA ampliam intervenção na Amazônia com dinheiro e ongs
Um exemplo é o projeto Mais Unidos na Amazônia, da rede financiada por agências e empresas americanas

Da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 04/08/2025 às 12:23 | Atualizado em: 04/08/2025 às 12:25
A Amazônia tem sido palco de uma silenciosa, mas intensa, disputa de narrativas e controle territorial por meio de organizações não governamentais, institutos internacionais e projetos de “desenvolvimento sustentável”.
A crítica foi feita pelo jornalista Bob Fernandes, em entrevista à jornalista Gabriela Varella, do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), neste dia 4 de agosto, ao revelar os bastidores de um processo coordenado de intervenção estrangeira financiado direta e indiretamente pelo governo dos Estados Unidos e por grandes corporações multinacionais.
Segundo Fernandes, trata-se de um projeto articulado há décadas, cujo epicentro está em redes como a Atlas Network, criada em 1982 na Inglaterra e hoje com mais de 500 institutos em operação no mundo, inclusive no Brasil.
A pesquisadora Camila Feixidao, referência no tema, documentou que a Atlas e outras entidades semelhantes são abastecidas com recursos públicos norte-americanos, via Departamento de Estado, Usaid, NED (National Endowment for Democracy) e Cipe (Center for International Private Enterprise).
“É uma estrutura pensada, financiada e aplicada para moldar discursos. Disfarçada de filantropia, mas articulada com objetivos políticos e geoestratégicos claros”, disse Fernandes.
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Bilhões movimentados e o discurso
Levantamento citado pelo jornalista mostra que, entre 1998 e 2018, a Atlas Network movimentou o equivalente a R$ 1,6 bilhão no Brasil, parte desse valor concentrado na Amazônia.
Apenas em 2023, a rede recebeu mais de US$ 28 milhões, segundo dados públicos antes ocultados pela própria organização.
Além disso, a Usaid (Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional) investiu US$ 142 milhões na Amazônia em apenas um ano, com atuação em 48 milhões de hectares, “treinando” mais de 13 mil pessoas, metade delas indígenas e quilombolas.
Segundo Fernandes, esse “treinamento” envolve pagamento direto a lideranças locais, o que levanta sérias questões sobre cooptação e dependência política.
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Mais Unidos por inglês e empreendedorismo
Outro projeto mencionado na entrevista é o Mais Unidos na Amazônia, que recebeu US$ 50 milhões em recursos estrangeiros e nacionais.
A iniciativa visa ensinar inglês e empreendedorismo em comunidades da Amazônia, mas também está sendo implementada em São Paulo e Minas Gerais.
“Em São Paulo, sob gestão do governador Tarcísio de Freitas, policiais militares estão sendo colocados como professores do programa, ganhando mais do que docentes da rede pública. O que se ensina? Civismo, ética, empreendedorismo — dentro de um pacote ideológico muito específico”, denuncia Fernandes.
Empresas privadas sob influência externa
Além de organismos estatais, o financiamento vem também de corporações globais como Pfizer, Coca-Cola, ExxonMobil e Philips, todas com interesses na região amazônica.
Segundo o jornalista, esse modelo de atuação já foi visto no passado com a chamada série Notas, nos anos 90, quando técnicos pagos com dólares norte-americanos redigiam projetos de lei para parlamentares brasileiros. O alcance estimado era de 38% do Congresso à época.
“As formas de intervenção são sutis: parece ajuda humanitária, mas é política externa em ação. A proliferação do discurso de ‘boas práticas’ e ‘capacitação’ é cuidadosamente financiada”.
Amazônia em risco
O alerta final é para que a sociedade compreenda que a Amazônia não está apenas sob ameaça de devastação ambiental, mas também de colonização discursiva e simbólica.
O ensino de inglês, a formação de lideranças e a presença ostensiva de ongs em comunidades tradicionais precisam ser observados sob a ótica da soberania e da autonomia nacional.
“É claro que é bom ensinar inglês. Mas quem ensina? Para quê? Com quais valores? Qual o objetivo real? A Amazônia está sendo moldada por fora, e o Brasil precisa entender isso com urgência”, afirmou Fernandes.
A entrevista completa com Bob Fernandes pode ser assistida nos canais do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), no vídeo abaixo:
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil