‘Massacre do Rio Abacaxis’, no Amazonas, expõe impunidade

Casos graves de violência e mortes de indígenas e ribeirinhos seguem sem justiça.

'Massacre do Rio Abacaxis', no Amazonas, expõe impunidade

Da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 04/08/2025 às 10:59 | Atualizado em: 04/08/2025 às 10:59

O conhecido “Massacre do Rio Abacaxis”, ocorrido em 2020 na divisa dos municípios de Nova Olinda do Norte e Borba, no rio Madeira, no estado do Amazonas, foi incluído em uma lista de cinco episódios de violência extrema contra indígenas e ribeirinhos que permanecem impunes ou sem responsabilização efetiva no Brasil.

A reportagem especial publicada pela Folha de S.Paulo neste domingo (4 de agosto) expõe a lentidão da Justiça e o esquecimento institucional diante de crimes com evidências graves de tortura, execução e formação de milícia.

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PM deixou rastro de terror

Em agosto de 2020, após conflito envolvendo pesca ilegal e a morte de dois policiais militares, uma megaoperação foi autorizada pelo então secretário de segurança do Amazonas, Louismar Bonates, sob comando do coronel Ayrton Norte, o comandante-geral da Polícia Militar da época.

O resultado foi um rastro de terror e violência sistemática contra ribeirinhos e indígenas mundurukus na região do rio Abacaxis.

Ao menos oito pessoas foram assassinadas, e há suspeitas de até 20 mortes não registradas oficialmente, além de relatos de tortura, execuções e desaparecimentos forçados.

Neste ano de 2025, a Polícia Federal concluiu as investigações, indiciando 13 pessoas, incluindo os dois ex-integrantes da cúpula da segurança do Amazonas.

Ainda assim, nenhuma condenação foi proferida até hoje, e o processo segue em ritmo lento.

Outros massacres esquecidos

Além do “Massacre do Rio Abacaxis”, a Folha destaca outros quatro episódios brutais, também marcados por omissão do Estado e impunidade generalizada:

  1. “Massacre do Rio Traíra” (Amazonas, 1993)

Militares do Exército mataram 16 indígenas tikunas em ação que alegava combater o tráfico de drogas. A versão oficial foi desmontada por testemunhas. Até hoje, ninguém foi responsabilizado.

  1. “Massacre de Corumbiara” (Rondônia, 1995)

Um conflito agrário envolvendo posseiros e forças policiais resultou na morte de ao menos 10 pessoas. O episódio revelou ação desproporcional do Estado e repressão violenta contra camponeses.

  1. “Massacre de Pau D’Arco” (Pará, 2017)

Operação policial matou 10 trabalhadores rurais em uma fazenda. O caso é um dos mais emblemáticos da repressão fundiária recente. Nenhum agente foi condenado até o momento.

  1. “Massacre do Rio Negro” Oiapoque (Amapá, 2022)

Homens armados atacaram e mataram quatro indígenas palikurs após disputa por terras. O caso teve pouca cobertura midiática e ainda não resultou em punições.

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Justiça morosa, vítimas esquecidas

A série de massacres evidencia o padrão de violência histórica contra populações tradicionais no Brasil, marcado pela lentidão judicial, omissão das autoridades e ausência de reparações.

Embora em alguns casos existam investigações em curso, os processos raramente avançam para punição efetiva dos responsáveis.

No caso do Abacaxis, por exemplo, mesmo com relatórios robustos da PF, os envolvidos seguem sem julgamento e os familiares das vítimas continuam sem resposta.

Leia a reportagem completa na Folha.

Foto: divulgação/Conselho Nacional das Populações Extrativistas