Saneamento bĂ¡sico tem tudo a ver com saĂºde pĂºblica

Marcellus Campelo aponta que para cada real investido em saneamento, sĂ£o economizados quatro com despesas mĂ©dicas e internações hospitalares. Leia no artigo semanal do autor

Saneamento bĂ¡sico tem tudo a ver com saĂºde pĂºblica

Por Marcellus Campelo*

Publicado em: 02/07/2025 Ă s 06:31 | Atualizado em: 02/07/2025 Ă s 11:16

O saneamento bĂ¡sico Ă© um direito constitucional e fundamental para garantir a saĂºde e a qualidade de vida das pessoas. Segundo a OrganizaĂ§Ă£o Mundial da SaĂºde (OMS), para cada real investido em saneamento, sĂ£o economizados quatro com despesas mĂ©dicas e internações hospitalares. Nessa equaĂ§Ă£o todos saem ganhando – a rede de saĂºde, o poder pĂºblico, as cidades e, principalmente, o cidadĂ£o.

O saneamento Ă© mais do que a obra fĂ­sica para implantaĂ§Ă£o de redes de esgoto e de Ă¡gua. Significa a reduĂ§Ă£o de doenças hĂ­dricas, como diarreia, leptospirose, hepatite A e infecções parasitĂ¡rias.

Contribui para a reduĂ§Ă£o da mortalidade infantil, que muitas vezes estĂ¡ associada a essas doenças.
AlĂ©m disso, se traduz em mais desenvolvimento, maior capacidade para atrair investimentos e estimular o turismo, impulsionando a economia local e nacional. O impacto positivo Ă© na saĂºde, mas tambĂ©m na geraĂ§Ă£o de renda e atĂ© no aumento do valor dos imĂ³veis.

Essa abrangĂªncia no modo de entender os benefĂ­cios do saneamento Ă© muito esclarecedora para mostrar a importĂ¢ncia dos investimentos que vĂªm sendo feitos nessa Ă¡rea pelo Governo do Amazonas, e o trabalho que tem sido desenvolvido para apoiar os municĂ­pios.

No Amazonas, trĂªs movimentos sĂ£o emblemĂ¡ticos nesse sentido: o fortalecimento do Programa Social e Ambiental de Manaus e Interior (Prosamin+), a ampliaĂ§Ă£o do Programa de Saneamento Integrado (Prosai), que foi concluĂ­do em MauĂ©s e agora estĂ¡ em Parintins, e a criaĂ§Ă£o da MicrorregiĂ£o de Saneamento BĂ¡sico (MRSB), uma iniciativa que, tenho certeza, vai representar um salto nesse segmento, em todo o interior.

As trĂªs iniciativas, lideradas pelo governador Wilson Lima, tĂªm a coordenaĂ§Ă£o da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano (Sedurb) e da Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE), Ă³rgĂ£os sob a minha gestĂ£o. É um trabalho que, pela dimensĂ£o e desafio que se apresenta, Ă© executado a vĂ¡rias mĂ£os, com o apoio e parceria de outros Ă³rgĂ£os do estado e o valoroso trabalho das equipes envolvidas.

Nos trĂªs projetos citados o saneamento bĂ¡sico Ă© o foco principal – seja em Manaus, com o Prosamin+, em Parintins, com o Prosai, ou, ainda, com a criaĂ§Ă£o da MRSB, movimento com o qual o governador vislumbra, com muita sabedoria, a possibilidade de estender a todos os municĂ­pios do interior os benefĂ­cios de poder contar com Ă¡gua tratada e rede de esgoto.

A MRSB irĂ¡ funcionar como uma autarquia intergovernamental, com gestĂ£o compartilhada entre estado e prefeituras. DarĂ¡ a condiĂ§Ă£o real e palpĂ¡vel para que os municĂ­pios do interior, com o apoio do estado e suporte de recursos federais, possam alcançar a meta de universalizaĂ§Ă£o dos serviços, conforme prevĂª o Marco Legal do Saneamento.

Essa visĂ£o macro do governador estĂ¡ alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento SustentĂ¡vel (ODS) da OrganizaĂ§Ă£o das Nações Unidas (ONU). Futuramente, sentiremos o reflexo desses movimentos todos, traduzidos em melhoria da qualidade de vida da populaĂ§Ă£o.

Os benefĂ­cios do saneamento, eu poderia dizer que sĂ£o incalculĂ¡veis. Mas nĂ£o sĂ£o. Estudo divulgado pelo Instituto Trata Brasil, uma referĂªncia nessa Ă¡rea, apresenta essa equaĂ§Ă£o muito claramente e mostra que ainda hĂ¡ uma trilha a percorrer para vencer os desafios, mas que alguns avanços jĂ¡ sĂ£o sentidos.

Segundo o estudo, houve um aumento considerĂ¡vel da parcela da populaĂ§Ă£o que recebe Ă¡gua tratada e conta com rede de esgoto no paĂ­s, embora ainda nĂ£o suficiente. A Ă¡gua tratada jĂ¡ alcançava 84,2% da populaĂ§Ă£o em 2022, data do Ăºltimo levantamento. Em se tratando de esgoto a situaĂ§Ă£o ainda era crĂ­tica, embora os Ă­ndices tenham melhorado. Em 2006, conforme o estudo, somente 39,4% da populaĂ§Ă£o usufruĂ­am do sistema de coleta e tratamento de esgoto. Em 2022 subiu para 55,5%.

Parece pouco, mas o avanço registrado influenciou na reduĂ§Ă£o pela metade das internações por diarreia e dengue, que saĂ­ram de 615,4 mil em 2008 para 344,4 mil em 2024. Uma reduĂ§Ă£o mĂ©dia anual de 3,6%, nos Ăºltimos 16 anos.

Mesmo com a reduĂ§Ă£o no nĂºmero de internações por doenças causados por insetos, como dengue, febre amarela, e contĂ¡gio por Ă¡gua contaminada, ainda morrem no Brasil mais de 11 mil pessoas por ano vĂ­timas dessas doenças, constatou o estudo. O efeito maior Ă© sobre as crianças e idosos.

Com relaĂ§Ă£o Ă s crianças, as doenças causam impacto na vida escolar, no desenvolvimento fĂ­sico e intelectual. O aluno com diarreia falta, em mĂ©dia, 2,6 dias de aula. Entre as meninas, o impacto ainda Ă© maior. Sem Ă¡gua em casa, quando estĂ£o menstruadas nĂ£o vĂ£o Ă  escola e sofrem tambĂ©m com doenças ginecolĂ³gicas. A lĂ³gica Ă© simples: quem estĂ¡ doente nĂ£o consegue trabalhar, estudar, produzir.

As perdas do paĂ­s como reflexo da falta de saneamento, numa projeĂ§Ă£o que abrange de 2021 a 2040, ao todo 19 anos, deverĂ£o chegar a R$ 591 bilhões, incluindo gastos com saĂºde, produtividade, valorizaĂ§Ă£o imobiliĂ¡ria e renda com o turismo.

É preciso avançar, portanto, e o Brasil tem esse enorme desafio pela frente, que Ă© a universalizaĂ§Ă£o dos serviços de saneamento bĂ¡sico. Passo importante, inclusive, para a reduĂ§Ă£o das desigualdades.

*O autor Ă© engenheiro civil, especialista em Saneamento BĂ¡sico e em Governança e InovaĂ§Ă£o PĂºblica; exerce, atualmente, os cargos de secretĂ¡rio de Estado de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano – Sedurb e da Unidade Gestora de Projetos Especiais – UGPE.

Foto: Thiago CorrĂªa/Secom