PT busca reconexão com evangélicos em curso sobre fé e política

Fundação Perseu Abramo promove formação para militância do partido dialogar com 27% da população evangélica.

Adrissia Pinheiro

Publicado em: 10/06/2025 às 09:54 | Atualizado em: 10/06/2025 às 09:54

A Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, lançou o curso “Fé e Democracia para a Militância Evangélica Brasileira”. A iniciativa surge em um momento de urgência: os evangélicos já são 27% da população – ante 6,6% em 1980, quando o partido foi fundado.

Na abertura, a teóloga Angelica Tostes (pentecostal e filha de convertidos) defendeu: “A Bíblia é o livro da classe trabalhadora”. 

Para ela, o PT precisa enxergar as igrejas como espaços que acolhem pobres, negros e mulheres periféricas, um público historicamente alinhado à esquerda, mas hoje influenciado pela direita.

O PT perdeu terreno entre evangélicos por três razões principais. Primeiro, a falta de diálogo aprofundado: Tostes critica abordagens superficiais, comparando-as a “um miojo – ‘3 minutos e pronto’”. 

Segundo, a disputa de narrativas: a direita capitalizou o vazio deixado pelo enfraquecimento de sindicatos e da Teologia da Libertação. 

Terceiro, o preconceito interno: uma cartilha do PT alerta para evitar rótulos como “fundamentalista”, que afastam fiéis.

Para reconquistar espaço, o partido adotou estratégias como usar linguagem bíblica – um vídeo do curso (ainda sigiloso) ressalta valores cristãos, como moradia digna e defesa da família, em suas múltiplas formas. 

Além disso, busca alianças com lideranças progressistas: o pastor Ariovaldo Ramos citou reforma agrária e justiça social em passagens bíblicas, enquanto a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) reforçou: “Não nos envergonhamos do Evangelho”. 

Outro foco são minorias evangélicas, representadas por convidados como o pastor Valdinei Ferreira, alvo de conservadores.

Os desafios, porém, são grandes. As lideranças progressistas têm menos influência do que pastores bolsonaristas, como Silas Malafaia. 

Além disso, as eleições municipais pressionam por resultados rápidos, mas a construção de pontes com as bases evangélicas exige tempo.

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Foto: Lula Marques/ Agência PT