A escolinha do professor JP
Aldenor Ferreira diz que o novo amo do contrário passou a reproduzir o estilo do JP. Leia no artigo semanal do sociólogo

Ednilson Maciel, por Aldenor Ferreira*
Publicado em: 10/05/2025 às 02:42 | Atualizado em: 09/05/2025 às 23:43
João Paulo Faria – o insuportável – criou uma nova linguagem para o item “Amo do Boi” no Festival Folclórico de Parintins. Sobre esse tema, há muito o que se discutir, mas pouco a fazer. A superioridade do JP em relação aos seus adversários é um dado da realidade. Para superá-lo, eles terão que, como ele, inventar uma nova linguagem também.
Com efeito, a criação de uma nova linguagem não é algo tão simples de ser construído. Não basta querer. É preciso ter muito talento para produzir algo original. A linguagem e o estilo criado pelo JP são muito difíceis de serem superadas sem que haja imitação, plágio ou cópia descarada.
Parece que as criações originais estão no DNA da família Faria. Seu pai, Zezinho Faria, na década de 1990, inaugurou em Parintins uma danceteria com equipamentos de luz e som modernos que apenas em grandes cidades existiam. No Festival de Parintins, seu tio, Paulo Faria, fez escola ao desenvolver e aperfeiçoar o item “Apresentador”. Nunca ninguém superou seus bordões e performances, apesar de o terem copiado bastante.
A influência do Paulinho transcende o tempo. Em Israel Paulain – o inigualável – nome que ressoa com originalidade, seu legado floresceu em novas formas. Longe de ser uma repetição, o estilo de Israel Paulain reverbera a essência do mestre, elevando a tradição do boi da Baixa do São José a um novo patamar.
A escola do JP
Pois bem. O JP também não é cópia de ninguém. Como mencionado, ele não apenas refundou o item “Amo do Boi”, mudando a performance e a linguagem desse item, como também inaugurou uma escola. Esse mérito é todo dele.
Em 2025, a “escolinha do professor JP” obrigou o boi contrário a correr atrás de um novo nome para ser seu amo. Ao demitir o cantor Prince, amo do Caprichoso por muitos anos, a diretoria do boi azul e branco tinha em mente uma só preocupação: que seu amo igualasse a performance e a linguagem do JP.
Todavia, para mim e para muitos torcedores, inclusive alguns do boi das cores azul e branco, as primeiras impressões acerca do novo amo não foram boas. Ocorreu com ele aquilo que costumamos dizer sobre aquelas pessoas que ficam bêbadas antes da festa começar: “queimou a largada”! E queimou por quê? Porque não criou uma performance original.
Nada novo
O novo amo do contrário não trouxe nada novo e ainda passou a reproduzir o estilo do JP. Inclusive colocando uma sanfona sem vergonha para o acompanhar nas performances. Eu, que sou fã incondicional do Charango, que o JP, originalmente, inseriu na parte final de sua performance, fiquei com náuseas ao ver aquela forçada imitação. Por enquanto, o novo amo do contrário está no nível da aposta.
Nesse âmbito, eu diria que se trata de uma aposta arriscada por parte da diretoria do boi azul e branco. Afinal, não se cria um estilo e uma escola tão facilmente. Como mencionado, não basta querer. É preciso ter muito talento para criar algo original.
Além disso, sabe-se que, com a profissionalização dos bois de Parintins, os contratos muitas vezes passam à frente da tradição e mesmo da paixão. As cores do coração podem mudar de um ano para o outro a depender das cifras contidas nas propostas. Não julgo. Faz parte do jogo dos profissionais. Mas, nós, torcedores, assim como no futebol, geralmente, temos uma só paixão a vida toda.
Conclusão
Desde que nasceu, o JP tem uma só paixão: o boi da Baixa. Para mim isso diz tudo. Ele, assim como o Garantido, nunca mudou de fazenda nem de dono de curral. Por isso, ele é um amo especial. Sem contar o fato de que a sua escolinha está derrubando (quedando) muita gente lá pelas bandas da Francesa, do Palmares e do Urubuzal. A preocupação com o curumim da Baixa está grande por lá.
Este ano o Festival de Parintins promete. A conferir…
*O autor é sociólogo.
Arte: Gilmal