Amazônia: história dos venezuelanos que fogem de Maduro há 9 anos
Nessa quase uma década de migração, mais de 1 milhão entraram no Brasil.

Da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 22/07/2024 às 11:16 | Atualizado em: 22/07/2024 às 11:19
Há quase 10 anos, milhares de venezuelanos ainda cruzam a fronteira com o Brasil, pelo município de Pacaraima, em Roraima. Logo, são milhares de histórias de migrantes que fogem do ditador Nicolás Maduro.
Conforme reportagem do g1, o Brasil é o terceiro país da América Latina que mais recebeu refugiados e migrantes venezuelanos, ficando atrás da Colômbia e do Peru.
Esse levantamento é da Plataforma Regional de Coordenação Interagencial R4V. Até maio deste ano, mais de 568 mil estavam no país.
Dessa forma, de acordo com a reportagem de Yara Ramalho e Samantha Rufino, os venezuelanos que buscam melhores condições de vida no país.
Como resultado, Roraima é a principal porta de entrada para o Brasil. Assim o estado aponta o seguinte:
- recebeu o maior número de pedidos de refúgio no ano passado: 71.198. Desses, 67.914 (95%) foram de migrantes venezuelanos;
- recebeu mais de 200 mil solicitações de residência temporária desde 2018;
- tem atualmente 232 venezuelanos vivendo em situação de rua nos municípios de Pacaraima e Boa Vista. Além de 7.096 vivendo em abrigos administrados pelo governo federal.
- entre 2016 e 2024, 9% de todos os atendimentos em unidades públicas de saúde do estado foram para pacientes venezuelanos — e 14 mil bebês filhos de pais venezuelanos nasceram em Roraima nesses oitos anos.
- de 2015 a 2023, 35 mil estudantes venezuelanos foram matriculados na rede estadual de educação básica do estado.
Segundo o pesquisador e diretor do Centro de Ciências Humanas da Universidade Federal de Roraima (UFRR), João Carlos Jarochinski Silva, os venezuelanos escolhem o Brasil pela política de acolhimento.
“Por ter uma política de acolhimento, interiorização, atendimento, documentação, há pessoas que hoje olham o Brasil como um destino possível para elas. Outros países têm feito políticas bastante ineficientes, mais de tentativa de bloqueio, de controle migratório. A gente pode citar o Peru, o Equador que não regulariza ninguém, o Chile. Então, apesar do idioma que para eles acaba sendo uma dificuldade, o Brasil é um destino possível de ingresso”, explicou o pesquisador.
Os que buscam vida nova
A publicação destaca os que buscam uma vida nova no Brasil. Por exemplo, entre eles, o casal Andry Josmeiber Quinonez Castro, de 23 anos, e Karyerlin Nazareth Castellanos Acosta, de 21, que está grávida.
Eles chegaram ao Brasil em junho, em busca de uma melhor vida para o filho.
A situação está complicada, nós sabemos bem e por isso decidimos vir para cá. O sistema de renda é difícil. Há alguns empregos, mas o dinheiro não chega para comprar as coisas, para comer. É muito difícil manter a família, Migrante Andry Josmeiber Castro, de 23 anos.
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Situação de rua
A migrante Dayane Milano, de 31 anos, é uma dessas pessoas em situação de rua. Acompanhada da filha e do marido, ela percorreu mais de 600 km entre a cidade venezuelana de Tumeremo, no estado de Bolivar, e a capital Boa Vista por uma promessa de emprego.
Segundo ela, a família trabalhou em uma fazenda onde foi ofendida, não recebeu um salário regular e nem comida.
Duramos uma semana nessa fazenda, [o dono] não pagou, nos trataram mal. Não nos deram comida. Passamos um momento horrível. Depois nós viemos para cá [rodoviária], mas dormimos por aí, pelas ruas, explicou a migrante.
Assim, vivendo no estado há cerca de três meses e sem ter para onde ir, Dayane se adaptou a uma nova rotina: passa o dia vendendo café no entorno da Rodoviária Internacional da capital, no bairro Treze de Setembro.
É um local onde migrantes e refugiados venezuelanos se instalam em estruturas improvisadas, e à noite debaixo de fachadas de lojas da região.
Dessa maneira, assim como Dayane, outros migrantes sonham com moradia e trabalho em outras cidades brasileiras, por meio do processo de interiorização.
Com isso, a ação facilita aos migrantes a retomada do trabalho, a adaptação ao país e a “reunião familiar”, que ocorre quando reencontram os familiares.
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Perfil dos migrantes
No início da migração, a maioria dos que deixavam a Venezuela eram jovens adultos. Atualmente, o perfil dos migrantes é formado por crianças, adolescentes e idosos que buscam, além de melhores condições de vida, reencontrar seus familiares, que já estão estabelecidos no Brasil.
Esse é o caso de Paola Corvo, de 28 anos, e dos dois filhos, de 4 e 5 anos. Ela deixou a cidade venezuelana de El Tigre para encontrar o irmão e o marido, que vivem no Espírito Santo, no Sudeste do Brasil.
A situação deles no Espírito Santo é boa, é estável. Decidi migrar exatamente pelas crianças. A gente depende do meu parceiro, pois é o meu marido que cuida das despesas aqui e também nos ajuda na Venezuela. Então, é melhor que estejamos todos aqui, contou.
Para João Jarochinski, as famílias e o “sucesso” dos que chegaram ao Brasil no começo da migração atraem as pessoas que ainda estão vivendo na Venezuela.
São pessoas que ficaram lá para cuidar da casa, para manter alguma vinculação e viviam dessas remessas, do dinheiro que era enviado para lá. Uma parte dessas pessoas hoje pensa: ‘olha, quem veio antes conseguiu se estabelecer, então eu vou para lá, pois eles já conseguiram algum nível de sucesso em relação a sua presença no Brasil’, explicou o professor.
Por conta da insegurança sobre um futuro melhor no país de origem, a estudante de educação especial Maria Peña, de 26 anos, também migrou para o Brasil.
Ela pretende ir para o Sul do país, onde o irmão mais velho mora, e conseguir um trabalho para sustentar a mãe e avó, que ficaram na cidade de Maracaibo.
Tenho de pagar as despesas universitárias e as despesas da casa, porque não posso deixar tudo [os gastos] com a minha mãe. Eu também tenho sobrinhos para apoiar, o resto dos familiares, a minha vó mais do que tudo, que está doente. Essas são as razões pelas quais sai da Venezuela, disse.
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Foto: divulgação/MDS