BR-319: ramais levam Amazonas a recorde de queimadas em setembro
O aumento do desmatamento e a pavimentaĂ§Ă£o de estradas elevam a preocupaĂ§Ă£o com incĂªndios na regiĂ£o. A preservaĂ§Ă£o da AmazĂ´nia Ă© crucial para mitigar os impactos das mudanças climĂ¡ticas.

Publicado em: 11/10/2023 Ă s 15:34 | Atualizado em: 11/10/2023 Ă s 15:34
Em setembro, o Amazonas atingiu uma marca recorde de queimadas, estendendo-se por uma Ă¡rea significativa ao longo da BR-319, ligando Manaus a Porto Velho, bem como suas estradas secundĂ¡rias, conhecidas como ramais. Isso tem gerado preocupações especialmente nas Ă¡reas protegidas pelo direito ambiental em terra e Ă¡guas doces, alĂ©m das Ă¡reas marinhas.
Aumento alarmante na Ă¡rea queimada
Dados do LaboratĂ³rio de Aplicações de SatĂ©lites Ambientais (LASA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) indicam que o estado do Amazonas registrou um recorde de 10.506 km² de Ă¡rea queimada atĂ© o final de setembro de 2023. Esta estatĂstica representa um aumento notĂ¡vel em comparaĂ§Ă£o com anos anteriores, e essa alta reflete tambĂ©m na AmazĂ´nia Legal, com um aumento de aproximadamente 5% em relaĂ§Ă£o a 2022.
Zona de atenĂ§Ă£o
Este ano, as queimadas se intensificaram ao longo da BR-319 e seus ramais, que atravessam uma regiĂ£o repleta de Ă¡reas protegidas. Isso levou a aproximadamente 1.842 focos de calor detectados atĂ© o final de setembro, representando cerca de 13% do total no estado. Embora o nĂºmero de focos ao longo da rodovia tenha diminuĂdo em comparaĂ§Ă£o com o ano passado, houve um aumento significativo nos ramais ligados Ă BR-319, onde foram registrados 1.753 focos de calor, em comparaĂ§Ă£o com 805 no ano anterior.
Ameaça Ă t Terras indĂgenas e unidades de conservaĂ§Ă£o
Esses ramais afetados pelas queimadas passam por 35 terras indĂgenas e 24 unidades de conservaĂ§Ă£o, resultando em uma ameaça significativa a essas Ă¡reas sensĂveis. Um dos registros mais alarmantes ocorreu na AM-254, que corta os municĂpios de Careiro, Autazes e Nova Olinda do Norte, e acumulou 873 focos de calor em 2023, afetando as terras habitadas pelos povos Munduruku, Mura e SaterĂ©-MawĂ©, bem como seis unidades de conservaĂ§Ă£o.
Desmatamento e pavimentaĂ§Ă£o de estradas
A pavimentaĂ§Ă£o da BR-319, conhecida como o “Trecho do Meio,” tambĂ©m preocupa especialistas, visto que a devastaĂ§Ă£o aumentou consideravelmente, apesar de ainda nĂ£o ter recebido a licença de operaĂ§Ă£o. Nesse trecho, desmatamento, abertura de pastos e garimpo avançam em paralelo.
Populações locais
Para garantir que as populações locais e tradicionais sejam ouvidas, foram criados protocolos de consulta nessas Ă¡reas, conforme o estabelecido na ConvenĂ§Ă£o 169 da OrganizaĂ§Ă£o Internacional do Trabalho (OIT), que exige que as populações afetadas sejam consultadas antes de qualquer empreendimento que possa impactar seus modos de vida.
DegradaĂ§Ă£o
AlĂ©m do desmatamento, a degradaĂ§Ă£o florestal tem favorecido a propagaĂ§Ă£o de incĂªndios durante os perĂodos secos. No entanto, Ă© importante destacar que a alta nos incĂªndios estĂ¡ intrinsecamente relacionada ao aumento das atividades de desmatamento. Isso torna essencial o combate Ă s prĂ¡ticas ilegais que desencadeiam incĂªndios devastadores na regiĂ£o.
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Mudanças climĂ¡ticas
As mudanças climĂ¡ticas, juntamente com atividades humanas prejudiciais, estĂ£o tornando a AmazĂ´nia ainda mais suscetĂvel a incĂªndios e desmatamento. Garantir a proteĂ§Ă£o das Ă¡reas protegidas, terras indĂgenas e unidades de conservaĂ§Ă£o na AmazĂ´nia Legal Ă© crucial para mitigar os impactos ambientais crescentes.
A preservaĂ§Ă£o da floresta amazĂ´nica Ă© uma preocupaĂ§Ă£o global, jĂ¡ que desempenha um papel crĂtico na regulaĂ§Ă£o do clima global e na conservaĂ§Ă£o da biodiversidade.
Esta reportagem Ă© uma contribuiĂ§Ă£o do projeto PlenaMata, da InfoAmazonia.
Foto: Christian Braga/Greenpeace/divulgaĂ§Ă£o