Guerreiros Mura, um espetĂ¡culo engajado e cheio de simbolismos
Apresentando atos e coreografias incrĂveis, o show cativou o pĂºblico, apesar de um pequeno incidente com fogo frio no inĂcio.

Dassuem Nogueira, especial para o BNC Amazonas
Publicado em: 03/09/2023 Ă s 13:57 | Atualizado em: 03/09/2023 Ă s 20:29
A ciranda Guerreiros Mura apresentou, na noite de sĂ¡bado (02/9), um espetĂ¡culo que contou a luta do povo IanomĂ¢mi para proteger a Urihi, a terra floresta, contra a ganĂ¢ncia do homem branco. Foi apresentado um tema de importĂ¢ncia polĂtica atual de forma artĂstica e alegre.
Em seu primeiro ato, uma guerreira Mura e sua criança chegam Ă terra floresta IanomĂ¢mi fugindo do ataque que, em meados de 1700, trouxe seu povo atĂ© Manacapuru.
Nesse encontro, Davi Kopenawa, representado pelo Apresentador Ivan Oliveira, lhe conta o que Ă© a Urihi e como os ianomĂ¢mis lutam por ela. E assim, a ciranda do bairro da Liberdade, desenvolveu trĂªs atos e 11 passos (coreografias) em seu espetĂ¡culo.

Para luta, Davi Kopenawa, o grande xamĂ£, convocou os guardiões da floresta Curupira, Caipora e Mapinguari para lutarem contra os garimpeiros. Eles trouxeram a Princesa Cirandeira, Porta Cores e ConstĂ¢ncia. A Cirandeira Bela veio trazida pela alegoria do espĂrito IanomĂ¢mi ancestral.
Chamou a atenĂ§Ă£o a grande alegoria de fundo que representava uma floresta. Ela saiu do estilo realista, estilo predominante na arte parintinense, e apresentou um estilo diferente.
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As Ă¡rvores da Urihi nĂ£o imitavam folhas reais. Em um volume Ăºnico, de cor preta, foram pintadas as folhas em verde neon. Dessa forma, a alegoria era, ao mesmo tempo, as copas das Ă¡rvores, cĂ©u e maloca IanomĂ¢mi.
Outro recurso alegĂ³rico de grande impacto, foi a formaĂ§Ă£o dos xapiri pĂª, seres espĂritos que dançam para espantar as xawaras, as doenças que saem das profundezas da terra quando o homem branco faz grandes buracos em busca de ouro e diamantes.

Para representĂ¡-los, parte do cordĂ£o de cirandeiros subiu no mĂ³dulo que representava uma serra com floresta. Sentados no mĂ³dulo, eles sacudiram bandeiras de tecido verde neon.
Ressaltadas pela luz negra, as bandeiras entĂ£o fizeram os espĂritos xapiri pĂª dançar entre as Ă¡rvores, como Ă© na visĂ£o IanomĂ¢mi.
Ainda nesse momento, o cantador Gamaniel Pinheiro foi içado por uma alegoria de pĂ¡ssaro atĂ© o topo do mĂ³dulo para defender o item cirandada letra e mĂºsica.
O uso de pessoas para a composiĂ§Ă£o de alegorias Ă© uma referĂªncia Ă obra do carnavalesco Paulo Barros.
Outros pontos altos do espetĂ¡culo foram as saĂdas de itens e destaques da torcida. O apresentador, parte do cordĂ£o de cirandeiros e a garota raça Mura saĂram do meio da arquibancada, que esteve quase completamente lotada nesse sĂ¡bado.
Ao final, toda a vida da terra floresta urihi venceu a batalha contra os garimpeiros. Um destaque representando um guerreiro Mura, recebeu dos ianomĂ¢mis a missĂ£o de continuar a luta pela vida.
O espetĂ¡culo apresentado teve poucos erros visĂveis. Um deles, foi a saĂda da alegoria da Princesa Cirandeira teve problemas para abrir. Os papĂ©is de metalon picados que deveriam explodir na sua abertura, explodiram antes.

Em funĂ§Ă£o do atraso, a tocata e o cordĂ£o tiveram que repetir uma coreografia. E, por fim, quando a alegoria abriu, o cordĂ£o estava ainda no meio da coreografia.
Assim, a Cirandeira Bela teve que aguardar o cordĂ£o e a tocata terminarem a segunda execuĂ§Ă£o para, enfim, fazer a sua evoluĂ§Ă£o.
Contudo, nĂ£o comprometeu o tempo da apresentaĂ§Ă£o, que se encerrou em 2h15mn. Sobrando tempo para que os itens e destaques subissem na arquibancada. E os trabalhadores de arena ainda puderam fazer bonita festa antes de saĂrem.
Momento de tensĂ£o
A ciranda azul, vermelha e branca apresentou um belĂssimo espetĂ¡culo, recheado de simbolismos em todas as cenas, que quase foi ofuscado pelo acidente com fogo frio logo no inĂcio do espetĂ¡culo.
O cordĂ£o de entrada que representava o curupira, fazia sua evoluĂ§Ă£o, quando feixes de fogo frio saĂram de suas fantasias. O dorso da fantasia era feita de esponja, simulando os mĂºsculos peitorais do curupira. Uma faĂsca de fogo frio iniciou o fogo no dorso de esponja da fantasia da componente. Desesperada, ela saiu de cena acompanhada por membros atĂ´nitos da tĂ©cnica de arena e pelo corpo de bombeiros.
Ao final do espetĂ¡culo, o apresentador informou que a componente estava bem. A notĂcia foi recebida com vibraĂ§Ă£o pela torcida.

Fotos: Dassuem Nogueira/especial para o BNC Amazonas