Juiz, sobre cartas de mortos no massacre: “Todo preso diz isso”

Publicado em: 16/01/2017 às 19:24 | Atualizado em: 16/01/2017 às 19:24
O juiz de execução penal do Amazonas, Luís Carlos Valois, disse à Agência Brasil, sobre as cartas que lhe foram enviadas, e a outras autoridades, pelos presidiários Gezildo Nunes da Silva e Alciney Gomes da Silveira, em 10 de dezembro, que só soube da existência delas depois do massacre do dia 1º de janeiro.
Segundo ele, essa é uma situação comum, preso dizer que está sob risco de morte, e que “não toma muito conhecimento disso”, porque a burocracia não permite.
“Eu soube depois do fato [chacina]. A carta estava com vista para o Ministério Público. Mas é muito comum o preso dizer que está com risco de vida e a gente, na burocracia do dia a dia, não toma muito conhecimento disso. Porque todo preso diz isso. E é verdade. Qual preso que está seguro no sistema penitenciário brasileiro?”, questiona o juiz.
Valois disse que o medo de morrer dos presos é constante. E que se for acatar transferência a cada ameaça, eles vão escolher onde querem ficar presos.
A Agência Brasil identificou nos fundos do cemitério Tarumã as covas rasas onde estão os corpos de Gezildo e Alciney.
Essas cartas dos presos, escritas 20 dias antes do massacre, denunciaram o envolvimento do subdiretor do Compaj, que virou diretor três dias antes do massacre, que permitia entrada de armas, celulares e drogas no presídio. Ele foi exonerado na semana passada.
O juiz, que já viu as consequências de dois massacres no Compaj, reafirmou seu abalo com este último, em 1º de janeiro.
“Eu já tinha participado de uma rebelião nesse mesmo local [Compaj]. Eu fiquei por cerca de sete horas no meio de 13 corpos, circulando entre eles até acabar a rebelião. Até então, essa tinha sido a pior experiência da minha vida, mas os corpos estavam inteiros. Esse esquartejamento, nessa última rebelião, foi um negócio bem forte para mim”, conta o juiz Valois.
E acrescentou:
“Você ver uma pessoa que você conhece, com quem você já falou, sem cabeça? Ver a cabeça de uma pessoa que você conhece? Isso é muito forte”.
Fonte: Agência Brasil
Fotos: Marcelo Camargo/Agência Brasil