‘Recuperação do emprego foi lenta, incompleta e desigual’, diz ONU
Relatório da Cepal e OIT, da ONU, analisa efeitos e recuperação da pandemia no mercado de trabalho da América Latina e Caribe

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 17/06/2022 às 18:13 | Atualizado em: 17/06/2022 às 18:13
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgaram, nesta sexta-feira (17), um novo relatório conjunto sobre a conjuntura do mercado de trabalho no período da pandemia da covid-19.
As agências da ONU afirmam que as economias da região cresceram 6,6%, em 2021, assim houve crescimento do emprego, da taxa de participação no trabalho e a diminuição do desemprego. No entanto, a recuperação do emprego tem sido lenta, incompleta e desigual.
Intitulada “Conjuntura Laboral na América Latina e no Caribe”, o relatório traz evolução e os desafios dos salários durante a pandemia (Coyuntura Laboral en América Latina y el Caribe. Los salarios reales durante la pandemia: evolución y desafíos).
As duas agências das Nações Unidas indicam que deve ser destacado o atraso na recuperação dos níveis de emprego pré-pandemia em relação à recuperação da atividade econômica nos países latino-americanos e caribenhos.
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Segundo a Cepal e OIT, até o final de 2021, vários países haviam recuperado seu nível de PIB Produto Interno Bruto) anterior à crise, enquanto os níveis de emprego, em muitos casos, ainda estavam abaixo.
“Da mesma forma como aconteceu em outras situações de crise, a dinâmica entre o emprego e a atividade econômica desempenha um papel fundamental na implementação de políticas laborais melhores e mais oportunas, pelo que as eventuais defasagens no emprego sugerem a necessidade de reforçar os instrumentos que facilitem a reintegração das pessoas ao mercado de trabalho”, destaca o documento.
Ainda de acordo com o relatório, após a contração histórica registrada no número de pessoas ocupadas na região em 2020 (8,2%), em 2021, houve uma recuperação significativa deste indicador, que foi de 6,8% entre o quarto trimestre do ano e o mesmo período de 2020.
No entanto, apesar do aumento considerável do emprego ao longo do ano, somente a partir do quarto trimestre de 2021 o número de pessoas ocupadas na região atingiu o patamar registrado no final de 2019.
Disparidades entre gênero
Por outro lado, as disparidades trabalhistas entre homens e mulheres se aprofundaram em 2021. A Cepal e a OIT mostram que a recuperação dos mercados de trabalho também foi desigual, em detrimento das mulheres.
“Embora tenha havido uma melhora no emprego e na participação tanto de homens quanto de mulheres, esta foi maior no primeiro caso do que no segundo.
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A crise gerada pela pandemia da doença do coronavírus (covid-19) teve um efeito mais significativo no emprego feminino, registrando um retrocesso equivalente a mais de 18 anos nos níveis da taxa de participação das mulheres.
A lenta recuperação das atividades que concentram o emprego feminino e o maior peso que recai sobre as mulheres nas tarefas de cuidados de doentes, crianças e idosos ajudam a explicar essa diferença marcante na dinâmica da taxa de participação global”, ressaltam as agências.
Evolução dos salários
Na segunda parte do relatório Conjuntura Laboral na América Latina e no Caribe Nº 26, a Cepal e a OIT afirmam que a crise sanitária causada pela Covid-19 teve efeitos importantes na evolução dos salários na região.
Por um lado, o impacto da evolução recente da inflação tem sido observado de forma mais clara nos salários mínimos reais, cujo poder de compra diminuiu em 2021.
Destaca-se também que os salários reais médios na região em 2021 foram 6,8% abaixo dos níveis anteriores à pandemia, ficando mais atrás desses níveis do que a atividade econômica e o emprego. Isso pode até se agravar em 2022, período para o qual são esperados aumentos ainda maiores da inflação.
Inserção dos vulneráveis
“A ativação de instrumentos institucionalizados, como a negociação coletiva e a fixação do salário mínimo, é fundamental para que, no nível das unidades produtivas e dos ramos de atividade, sejam discutidos os reajustes salariais que permitam responder às necessidades dos trabalhadores e das empresas”, destacam Mario Cimoi, secretário-executivo Interino da Cepal, e Claud Coenjaerts, diretora Regional Interina da OIT para a América Latina e o Caribe.
Os diretores das agências acrescentam que as políticas que facilitam a inserção de pessoas assalariadas —como subsídios à contratação— dirigidas aos grupos mais vulneráveis não só contribuirão para uma recuperação mais rápida do emprego para esses grupos, mas também favorecerão condições salariais que não impliquem uma precarização em relação aos níveis anteriores à pandemia.
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Reajuste como saída
Segundo a Cepal e a OIT, há espaço para a recuperação do emprego aos níveis pré-pandemia, mas para isso é fundamental realizar reajustes dos salários mínimos para compensar as perdas causadas pelo aumento da inflação.
Nesse sentido, a reativação de mecanismos de diálogo entre governos, trabalhadores e empregadores para definir reajustes dos salários mínimos tem um grande potencial para conciliar as necessidades dos atores trabalhistas.
“Isso serviria para aplicar os reajustes do salário mínimo que permitam compensar o aumento da inflação, considerando também seu impacto tanto nos custos de produção, especialmente para as micro, pequenas e médias empresas, quanto na geração e recuperação do emprego”, conclui o relatório da Conjuntura Laboral na América Latina e no Caribe.
Com informações da Cepal e OIT
Foto: Setrab Manaus/divulgação