Em carta, médico da Unimed expõe situação caótica da cooperativa

Dívidas que somam mais de R$ 260 milhões com o fisco federal e a previdência; atraso no pagamento de advogados, fornecedores e do aluguel do prédio que abriga o Hospital Unimed Parque das Laranjeiras fazem parte do quadro caótico descrito pelo médico anestesista Sergio Ferreira Filho sobre a Unimed Manaus.

Em carta de três páginas endereçada aos seus pares e que acabou vazando na imprensa, o cooperado também relata sua preocupação com o destino da receita anual de quase meio bilhão de reais, chama de “desastrosa” a atual gestão da presidente Corina Batista e solicita a participação dos seus colegas no abaixo-assinado que convoca, em caráter de urgência, assembleia para destituir a diretoria executiva.

“A nossa UNIMED MANAUS, apesar do seu gigantismo, da sua importância estratégica regional, não dispõe de qualquer crédito na praça. O que os nossos Diretores fizeram com uma empresa, cuja receita anual é da ordem de quase meio BILHAO DE REAIS? Sim, essa é a pergunta que não quer e nem pode ser esquecida. Para onde foi toda essa receita?”, questiona o cooperado na carta.

Em outro trecho, a gestão da pediatra Corina Batista, que já foi diretora do Instituto de Saúde da Criança (ICAM), é chamada por Ferreira Filho de “desastrosa e temerária” e reclama o fato dos cooperados terem que aportar dinheiro para equilibrar as finanças.

“A atual Diretoria Executiva não possui a menor credibilidade para pleitear aportes de novos recursos financeiros, seja de nós, Cooperados, seja de qualquer agente financeiro. Grande parte dos Cooperados, em um ato de boa-fé, aportou recentemente cerca de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), sendo que alguns ainda estão pagando a duras penas parcelas de financiamento bancário por força disso. Agora, diante das dificuldades por si criadas, a atual Diretoria vem falando da necessidade de nos tungar em mais R$ 40.000,00 (quarenta mil reais), a fim de equilibrar as combalidas finanças. Será essa a solução que sempre resta? Diante de uma má gestão, que longe está de ser transparente e eficiente, sobrará ao Cooperado assumir os efeitos financeiros do direcionamento desastroso e descontrolado da arrecadação de nossa cooperativa?”, diz.

“Curioso que, enquanto batalhamos pela sobrevivência da Cooperativa, a nossa Presidente não atende beneficiários da UNIMED MANAUS em seu consultório. Quanta contradição esse comportamento denota!”, complementa.

No final, o cooperado pede convocação de assembleia para eleger uma nova diretoria.

“Venho sugerir que nós, os Cooperados, realizemos uma assembleia com urgência, cuja finalidade será a de destituir a atual Presidente e a Diretoria Executiva. Basta que 20% (vinte por cento) de nós Cooperados provoque uma assembleia com esta finalidade, bem como para eleger uma nova Diretoria, que permita aos dirigentes técnicos já contratados promover a implementação de medidas do plano de saneamento para a recuperação de nossa UNIMED MANAUS. Convido-lhe, então, a participar do abaixo assinado em anexo a esta carta”.

Procurado pelo BNC, o médico anestesista Sergio Ferreira Filho confirmou que a carta foi endereçada para “a reflexão dos cooperados, que são os donos da cooperativa”.

A direção da Unimed Manaus, por meio de sua assessoria, enviou nota ao BNC esclarecendo os pontos da carta. Leia na íntegra.

Nota Unimed Manaus

Hoje, a Unimed de Manaus conta com 976 médicos cooperados. 

A direção da cooperativa ressalta que não se pode confundir Ativo Garantidor com IN20, que são coisas absolutamente diferentes. Também esclarece que a Unimed Brasil não é banco de fomento, para ter negado empréstimo para a Unimed de Manaus.

 A atual gestão ressalta que recebeu o Ativo Garantidor no final do ano de 2012 com pouco mais de R$47 mi e hoje conta com mais de R$ 70 mi. Nenhuma correção monetária de nenhum país do Mundo justificaria o aumento significativo.

 As dívidas tributárias em 2012 eram de mais de R$400 mi (a maior parte referente à IN20, que são os tributos não pagos de 1996 a 2007 repassados aos cooperados) e sequer estavam contabilizadas, o que prejudicou muito a Unimed de Manaus. Hoje, a IN20 está em menos de R$60 Mi, ou seja, a atual gestão tirou das costas dos cooperados quase R$ 300 Mi em dívida tributária.

 A dívida tributária atual da Unimed de Manaus está integralmente declarada e contabilizada, o que afasta qualquer crime tributário. Além do mais, está sendo parcelada pelo REFIS e em questão de dias deverá ser expedida a Certidão Positiva com Efeito de Negativa. Bom frisar que o REFIS veio justamente porque milhares de empresas Brasil afora não estavam conseguindo pagar completamente a enorme carga tributária, a exemplo da Unimed de Manaus.

 Os fornecedores e prestadores de serviço da Unimed de Manaus estão sendo chamados para negociar a forma de pagamento de algumas faturas em atraso. Aqueles que entendem a importância da Cooperativa para o mercado local estão colaborando e aceitando o parcelamento.

 Todas as contas da atual gestão foram aprovadas em Assembleia Geral Ordinária, com parecer favorável do Conselho Fiscal, da ANS e da Auditoria Externa. Os balanços estão no Portal do Cooperado, hospedado no endereço www.unimedmanaus.com.br/areadocooperado.

Leia a carta na íntegra.

Ao Cooperado Unimed Manaus

Nesta Neste final de semana, tomei conhecimento que a Presidente do Conselho Executivo da UNIMED MANAUS, Corina Viana, teria viajado a São Paulo para uma reunião com membros da diretoria da UNIMED DO BRASIL, em busca de apoio e socorro financeiro, na forma de aporte de dinheiro novo à nossa Cooperativa Regional.

Como seria fácil imaginar, a Presidente não obteve êxito, isto é, não obteve o auxílio financeiro que buscou.

O sistema UNIMED do BRASIL não vai emprestar dinheiro a uma Diretoria que, há 4 anos, iniciou com o propósito verbal de recuperar a UNIMED MANAUS, que, à época, não conseguira acumular fundo suficiente para cumprir a IN 20, ou seja, alcançar um provisionamento de R$ 84.000.000.00 (oitenta e quatro milhões de reais) junto à ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar. Às duras penas, conseguiu R$ 47.000,000,00 (quarenta e sete milhões), retirando, como sempre, dinheiro dos Cooperados.

O valor maior existente hoje, e fruto da correção monetária, essa Diretoria não aportou qualquer recurso a esse fundo.

Lembremos que os Cooperados estavam com pagamento em dia, assim como o aluguel do prédio, a rede de prestadores e fornecedores diversos. Isso já não ocorre hoje, diga-se, a bem da verdade, há muito tempo ao longo desta gestão.

Hoje, somos devedores de cifras milionárias com a rede de prestadores, fornecedores de OPME e toda cadeia com que fomenta a UNIMED MANAUS. Temos centenas de títulos protestados, ações ajuizadas por fornecedores, prestadores e beneficiários, preocupados em garantir seus direitos creditícios e/ou o atendimento pelos planos que pagam mês a mês.

A nossa UNIMED MANAUS, apesar do seu gigantismo, da sua importância estratégica regional, não dispõe de qualquer crédito na praça. O que os nossos Diretores fizeram com uma empresa, cuja receita anual é da ordem de quase meio BILHAO DE REAIS? Sim, essa é a pergunta que não quer e nem pode ser esquecida. Para onde foi toda essa receita?

Precisamos, em nome da tão propalada eficiência e transparência, de explicações detalhadas da nossa Diretoria.

É fato: estamos com atraso no aluguel do prédio que abriga o complexo do HUPL Laranjeiras, assim como com empresas de segurança, de fornecimento de alimentação, além dos mais diversos contratos, a exemplo da manutenção de aparelhos de ar condicionado, contas telefônicas entre tantos. Até os advogados – prestadores de serviços – da UNIMED estão com seus vencimentos atrasados.

A situação mais grave, porém, é verificada junto ao Fisco Federal: temos dívidas previdenciárias da ordem de R$ 71.000.000.00 (setenta e um milhões de reais), correspondente a valores retidos/ descontados dos atos cooperados, mas não repassados ao Fisco, caracterizando o crime de apropriação indébita.

Não bastasse a dívida previdenciária, a UNIMED MANAUS acumula com o Fisco Federal outros R$ 190.000,000,00 (cento e noventa milhões de reais), relativos ao imposto de renda retido na fonte, dos atos cooperados e funcionários, mas não repassados pela atual Diretoria ao Fisco.

Isso se configura como Crime contra a Ordem Tributária, nos termos da Lei 8.137/90, em seu artigo 2º, incisos II e III. Se sob o aspecto penal, a Presidente e sua Diretoria devem responder por seus crimes, sob o aspecto financeiro essa conta será suportada, mais uma vez, por mim e por todos os demais Cooperados, conforme o artigo 1.095, do Código Civil, bem como os artigos 7º, VI, 8º e 9º, todos do Estatuto da UNIMED MANAUS.

Imaginou-se, algum dia, um cenário desses, ainda mais de uma Diretoria que pregava, como ainda prega, uma gestão eficiente e transparente?

Aonde se denota a propalada transparência? Esses fatos gravíssimos não foram transmitidos a nós, os Cooperados, únicos e verdadeiros proprietários da Cooperativa e responsáveis pelo dia a dia de sua operação.

Cooperados que se desdobram para fazer acontecer a boa medicina nos plantões, consultórios, centros cirúrgicos, enfim nos mais diversos procedimentos e atendimentos prestados em nome da UNIMED MANAUS, como forma de manter nossos beneficiários/ clientes, fazendo a empresa se posicionar no mercado, mantendo viva e forte a marca UNIMED em nossa região.

Mas todo esse nosso esforço está indo ao ralo, pois a UNIMED MANAUS está perdendo sua referência e credibilidade junto à sociedade amazonense, em todos os elos com os quais precisamos ter uma relação sadia – fornecedores/ prestadores e, em especial, com nossos clientes.

Curioso que, enquanto batalhamos pela sobrevivência da Cooperativa, a nossa Presidente não atende beneficiários da UNIMED MANAUS em seu consultório. Quanta contradição esse comportamento denota!

O que fez essa Diretoria com uma empresa proprietária de 03 (três) hospitais, com forte e excelente rede conveniada de laboratórios, clínicas e hospitais, sendo, por isso, no passado, reconhecida como a melhor assistência médica do Amazonas?

O mais grave: na atual gestão, perdemos a condição de maior operadora de serviço de saúde da região, ainda que congreguemos cerca de mil médicos cooperados, em diferentes especialidades, que arrecada, como dito, QUASE MEIO BILHAO DE FATURAMENTO ANUAL, às custas do nosso trabalho.

Portanto, não basta a UNIMED MANAUS passar por situações financeiras tão graves, ainda tem que perder cada vez mais espaço no mercado local?

Com esse tipo de desempenho, a atual Diretoria Executiva não possui a menor credibilidade para pleitear aportes de novos recursos financeiros, seja de nós, Cooperados, seja de qualquer agente financeiro.

Grande parte dos Cooperados, em um ato de boa-fé, aportou recentemente cerca de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), sendo que alguns ainda estão pagando a duras penas parcelas de financiamento bancário por força disso.

Agora, diante das dificuldades por si criadas, a atual Diretoria vem falando da necessidade de nos tungar em mais R$ 40.000,00 (quarenta mil reais), a fim de equilibrar as combalidas finanças.

Será essa a solução que sempre resta? Diante de uma má gestão, que longe está de ser transparente e eficiente, sobrará ao Cooperado assumir os efeitos financeiros do direcionamento desastroso e descontrolado da arrecadação de nossa cooperativa?

Honestamente, você ainda confia o seu dinheiro e a sua empresa à administração da atual Diretoria? Particularmente, eu confio na UNIMED MANAUS, como instituição, como operadora sedimentada no mercado, capaz de, se bem administrada, prestar seus serviços de maneira honrosa e manter relações saudáveis com seus fornecedores, prestadores e beneficiários. Porém, não confio na Diretoria que, hoje, comanda nossa cooperativa.

Chega de uma gestão desastrosa e temerária.

A solução se encontra há muito tempo nas dependências da nossa empresa, afinal técnicos recomendados pela UNIMED DO BRASIL foram contratados para elaborar e implantar um plano de saneamento, definindo diretrizes para tanto.

Ocorre que essas diretrizes nunca foram seguidas pela direção atual da empresa, em especial de sua Presidente, Sra. CORINA VIANA, que detém o poder decisivo para direcionar os encaminhamentos da empresa (o que, infelizmente, não vem adotando).

Não estou me apresentando aqui como solução mágica para tão grave situação, mas venho sugerir que nós, os Cooperados, realizemos uma assembleia com urgência, cuja finalidade será a de destituir a atual Presidente e a Diretoria Executiva.

Basta que 20% (vinte por cento) de nós Cooperados provoque uma assembleia com esta finalidade, bem como para eleger uma nova Diretoria, que permita aos dirigentes técnicos já contratados promover a implementação de medidas do plano de saneamento para a recuperação de nossa UNIMED MANAUS.

Convido-lhe, então, a participar do abaixo assinado em anexo a esta carta.

De outra forma vamos assistir passivamente a intervenção e liquidação da nossa empresa e, em consequência, sobrará toda essa conta para pagarmos, enquanto os responsáveis pelo desastre sairão ilesos.

Atenciosamente.

Sergio Ferreira Filho

Medico cooperado

CRM-AM nº 1545