Pesquisa mostra que rejeiĂ§Ă£o a Bolsonaro alcança pior Ă­ndice do mandato

Comparando-se com dezembro do ano passado, o crescimento na reprovaĂ§Ă£o ao presidente totaliza agora 21 pontos percentuais e a queda nas taxas de Ă³timo ou bom soma 15 pontos em perĂ­odo equivalente

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Publicado em: 16/09/2021 Ă s 19:05 | Atualizado em: 16/09/2021 Ă s 19:18

O presidente Jair Bolsonaro testa nĂ£o sĂ³ os limites da democracia como tambĂ©m a paciĂªncia dos brasileiros. E pelos dados do Datafolha divulgados nesta quinta-feira (16), a opiniĂ£o pĂºblica reproduz a dinĂ¢mica das instituições do paĂ­s – emite, na maior parte dos casos, avaliações crĂ­ticas ao presidente, mas mantĂ©m-se inerte, em distĂ¢ncia segura. A pesquisa aponta que 53% dos entrevistados consideram o governo ruim ou pĂ©ssimo, o pior Ă­ndice do mandato.

Diante da tĂ©cnica do morde e assopra que permeia a crise entre os Poderes, a populaĂ§Ă£o assiste Ă s ameaças na espera de quem pisca primeiro. As oscilações dentro da margem de erro desenham um cenĂ¡rio parecido com o da pesquisa anterior, realizada em julho, mas preenchem com mais algumas gotas um copo que ainda se mostra pela metade: meio cheio, meio vazio, dependendo do referencial.

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A perspectiva negativa, sob a Ă³tica do governo, estĂ¡ no diagnĂ³stico geral – Bolsonaro alcança recorde de impopularidade, a maioria dos eleitores quer seu impeachment e o rejeita como candidato para 2022, uma disputa ainda liderada com folga por Luiz InĂ¡cio Lula da Silva (PT). AlĂ©m disso, defendem a democracia e enxergam alguma ameaça nos arroubos autoritĂ¡rios do presidente.

A tendĂªncia negativa da curva de avaliaĂ§Ă£o de seu mandato mantĂ©m-se. O colapso do sistema de saĂºde, o nĂºmero expressivo de mortes na pandemia, auxĂ­lio emergencial insuficiente, inflaĂ§Ă£o e as denĂºncias envolvendo o governo na CPI da covid fizeram a imagem de Bolsonaro derreter em todos os segmentos da populaĂ§Ă£o no decorrer deste ano.

Comparando-se com dezembro do ano passado, o crescimento na reprovaĂ§Ă£o a Bolsonaro totaliza agora 21 pontos percentuais e a queda nas taxas de Ă³timo ou bom soma 15 pontos em perĂ­odo equivalente.

Para quem ficou surpreso com o nĂºmero de manifestantes pelas ruas do paĂ­s no Ăºltimo 7 de Setembro, vale o alerta: o Ă­ndice de eleitores que querem seu impeachment e dos que o rejeitam como candidato Ă  reeleiĂ§Ă£o Ă© cerca de cinco vezes maior do que o de bolsonaristas fiĂ©is.

Pela segmentaĂ§Ă£o de escala elaborada pelo Datafolha, que considera variĂ¡veis como voto declarado, confiança e avaliaĂ§Ă£o, esse estrato corresponde hoje a 11% dos brasileiros (jĂ¡ foi 17%).

É um subconjunto que carece de representatividade social. SĂ£o na maioria homens, com idade e renda acima da mĂ©dia da populaĂ§Ă£o. TambĂ©m hĂ¡ maior participaĂ§Ă£o dos que se autoclassificam brancos e evangĂ©licos. Para a maioria dos 89% restantes, as manifestações desse pequeno grupo tanto nas ruas quanto em redes sociais configuram ameaça Ă  democracia brasileira.

JĂ¡ na perspectiva positiva para o governo, alguns detalhes da pesquisa podem trazer otimismo para Bolsonaro.

Mesmo com suas bravatas autoritĂ¡rias, a intensidade do crescimento de reprovaĂ§Ă£o Ă  sua gestĂ£o foi um terço da verificada entre maio e julho, quando aumentou seis pontos percentuais —agora oscila dois. Isso porque boa parte dos entrevistados relativiza as chances de um golpe promovido pelo presidente.

O que poderia ser um recorde ainda mais expressivo de impopularidade foi freado por avanço da vacinaĂ§Ă£o, crescente percepĂ§Ă£o de controle da pandemia, flexibilizaĂ§Ă£o e o arrefecimento de novas denĂºncias na CPI da Covid. Depois de tantas polĂªmicas, ele poderia atĂ© comemorar o fato de nĂ£o ser considerado ruim ou pĂ©ssimo por 47% dos brasileiros.

O Ă­ndice dos que querem o impeachment do atual ocupante do cargo, apesar de majoritĂ¡rio, Ă© menor do que o dos ex-presidentes impedidos, Dilma Rousseff (PT) e especialmente Fernando Collor (entĂ£o no PRN).

Em alguns segmentos, uma aparente resiliĂªncia fica mais clara, como por exemplo entre os de maior renda. É um grupo estratĂ©gico para Bolsonaro, o primeiro a despertar para o entĂ£o candidato do PSL nas eleições de 2018 e que foi abandonando o barco diante de sua fraca gestĂ£o na crise sanitĂ¡ria.

Na pesquisa atual, Ă© o Ăºnico estrato onde se observa refluxo importante (12 pontos percentuais) nas taxas de reprovaĂ§Ă£o ao governo. AlĂ©m disso, apesar de ser um conjunto que declara apreço pela democracia, avalia mal o STF (Supremo Tribunal Federal) e Ă© o que menos vĂª chances de um golpe protagonizado pelo presidente.

HĂ¡ de se aguardar novos levantamentos para confirmar se os mais ricos anteciparĂ£o ou nĂ£o movimentos que poderiam se espalhar por outros conjuntos, como aconteceu hĂ¡ quatro anos.

Nesse sentido, a economia torna-se vetor essencial. A maioria dos entrevistados ainda nĂ£o atribui a Bolsonaro responsabilidade total pelo desemprego, pela inflaĂ§Ă£o e pela crise energĂ©tica.

No entanto, entre os que o rejeitam como candidato, o Ă­ndice dos que tĂªm renda de atĂ© dois salĂ¡rios mĂ­nimos Ă© maior em 4 pontos percentuais, o que garante recall positivo de Lula e eventual espaço para uma terceira via.

Para Bolsonaro, que jĂ¡ teve o apoio de boa parcela desse segmento quando pagou o auxĂ­lio emergencial do ano passado, resta esclarecer como incrementarĂ¡ valor e alcance do Bolsa FamĂ­lia, ou AuxĂ­lio Brasil, polĂ­tica fundamental para tentar reverter sua rejeiĂ§Ă£o.

O Datafolha acompanharĂ¡, como faz hĂ¡ quase 40 anos, a histĂ³ria de mais esse episĂ³dio da democracia brasileira. Mas pode deixar de contar os Ăºltimos capĂ­tulos.

Mudanças no cĂ³digo eleitoral, jĂ¡ aprovadas na CĂ¢mara e que impedem os institutos de divulgarem pesquisas na vĂ©spera da eleiĂ§Ă£o, privarĂ£o vossa excelĂªncia, o (e)leitor, de informações legĂ­timas e Ăºteis para a definiĂ§Ă£o do voto. Mais ou menos como obrigar-se a tomar de um copo no escuro, sem saber o que ele traz e se estĂ¡ mais cheio ou vazio.

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Foto: AgĂªncia/EBC